

"Comecei a jogar à bola na rua com os meus amigos, como qualquer outra criança da minha geração."
Eu já me destacava dos outros pela elevada estatura e como gostava de ser guarda-redes, fui desafiado por um colega que era mais velho que eu a ir treinar na equipa onde ele jogava, o Vilanovense, que de resto, era o único clube que tinha Escolinhas nas proximidades. Eu fui, estava entre o meu último ano de Escolinhas e o primeiro de Infantil, eles gostaram logo de mim e a partir daí, não parei mais. Era engraçado, porque quando jogava nos recreios da escola, queria sempre jogar na frente. Dizia aos meus colegas que a baliza já me bastava à noite, nos treinos.
No meu segundo ano de iniciado, joguei contra o FC Porto e fiz uma grande exibição. Na altura, o treinador do FC Porto era o Rui Pacheco, que após esse jogo veio ter comigo, elogiou-me e convidou-me para ir fazer uns treinos de captação na formação do FC Porto.
Depois, um olheiro do clube contactou os meus pais e ficou tudo acertado para que no final da época eu fosse lá treinar à experiência. Quando lá cheguei, fiquei extremamente espantado, porque pensava que só os guarda-redes que já estavam na equipa, e eu, é que íamos treinar. Quando me deparei que o balneário estava cheio de guarda-redes que também iam treinar à experiência, fiquei impressionado. As coisas correram-me muito bem e eu fui escolhido para ficar no clube.
Rui Pacheco, Licenciado em Educação Física e Mestre em Ciências do Desporto, trabalhou largas épocas em vários escalões de formação no FC Porto. Foi 4 vezes campeão nacional orientando os Sub-14 e Sub-16. É autor dos livros “Segredos de balneário” e “ O ensino do Futebol – Futebol de 7 – Um jogo de iniciação ao Futebol de 11."
No meu percurso na formação do FC Porto, eu joguei sempre um escalão acima do meu. Era juvenil e já jogava nos juniores, era júnior e já estava na equipa B e isso deu-me sempre muita motivação, para trabalhar no duro. Nesse período, eu cresci uns bons centímetros e até tive alguns problemas físicos, derivado “ao pulo” que dei.
Comecei a representar a nossa seleção nos sub-15 e em 2000, sou campeão europeu sub-16, em Israel. Fui um dos guarda-redes em destaque na competição, assinei contrato de formação com o FC Porto e nessa altura fui sondado por alguns olheiros de clubes internacionais, mas nunca chegou nenhuma proposta concreta para sair de Portugal. Passado dois anos, assinei um contrato profissional com o FC Porto e estava confiante numa carreira de sucesso no clube do meu coração.
Portugal tem 4 títulos de Campeão Europeu sub-16 ( 1989, 1995, 1996 e 2000 ). Em Israel, Ricardo Quaresma foi o herói da equipa portuguesa, ao apontar os 2 golos na final contra a República Checa. Para além de Bruno Vale e Ricardo Quaresma, Custódio, Hugo Viana e Raul Meireles, foram alguns dos jogadores que ajudaram a equipa comandada por António Violante, a conquistar o título.
Na véspera de iniciar os trabalhos com a equipa principal do FC Porto, nem dormi como deve ser.
Estava prestes a concretizar o meu sonho de infância e partilhar o balneário com o meu ídolo Vítor Baía, tirou-me o sono. Quando eu estava no Vilanovense, jogava com uma camisola igual à do Vítor Baía, só o símbolo do clube é que mudava. Fui muito bem recebido por ele, assim como por todos os outros futebolistas.
O FC Porto naquela época estava recheado de figuras míticas e o facto de eu também já ser uma referência do clube na minha formação, facilitou a minha integração. Chegar à equipa principal do FC Porto, foi um sonho tornado realidade.
Vitor Baía jogou 566 jogos pelo FC Porto, num total de 17 épocas ao serviço dos dragões. Fez a sua estreia na equipa principal aos 18 anos frente ao Vitória SC, em Guimarães, e despediu-se dos relvados em 2007, na vitória ( 4x1 ) do FC Porto contra o Desportivo das Aves. Entre FC Porto e FC Barcelona, conquistou 33 títulos. É o português com mais títulos da história do futebol.
Em 2005/2006 eu fui emprestado ao Estrela da Amadora.
No FC Porto eu não teria oportunidades de jogar, tinha feito uma boa época na equipa B, mas achámos por bem ser emprestado a um clube da I Liga para ter a competitividade necessária, que não havia jogando na II B, pelo Porto B.
Gostei muito de jogar no Estrela, encontrei um grupo fantástico, o Mister António Conceição e a restante equipa técnica deram-me muita confiança, fui aposta, felizmente correspondi com boas exibições, e coletivamente fizemos uma época muito boa, garantimos a manutenção na I Liga relativamente cedo, e apesar do clube viver com algumas dificuldades financeiras, isso não tirou o foco à equipa
Em 05/06 o Estrela da Amadora ficou na 9ª posição na I Liga. Na época 08/09, o clube foi despromovido automaticamente para a II Divisão Nacional, apesar de ter garantido um confortável 11º lugar na Liga. A crise financeira do clube ditou a sua extinção em 2010.
Fui internacional por Portugal em todas as equipas, desde os sub-15, até à seleção A.
Em 2006, disputei o Euro sub-21 em Portugal, e estava convocado pelo Scolari, para representar a nossa seleção no Mundial de 2006. Infelizmente lesionei-me com gravidade no Portugal x Sérvia, perdi o resto do Euro sub 21 e não fui para a Alemanha com a seleção .
O Scolari gostava de mim, e sempre disse que o que pretendia em matéria de guarda-redes, passava por ter dois experientes, e um mais jovem, neste caso eu. O momento da minha estreia também é algo inesquecível, foi em Chaves contra o Cazaquistão, no dia em que o Cristiano Ronaldo também se estreou.
Não ter ido a esse Mundial, foi a maior infelicidade na minha carreira, mas são coisas que acontecem no futebol.
Portugal recebeu o Euro-sub 21, em 2006. Apesar das altas expetativas, a seleção das Quinas não conseguiu passar a fase de grupos. Apesar da vitória frente à Alemanha no último jogo do grupo, as derrotas contra a França e Sérvia e Montenegro, impossibilitaram os lusos de seguirem em frente. Manuel Fernandes, João Moutinho, Raul Meireles, Nani, Ricardo Quaresma, Luís Lourenço e Hugo Almeida fizeram parte dessa seleção comandada por Agostinho Oliveira.
Depois de ter feito uma grande época no Estrela da Amadora e de ter somado duas convocatórias para a seleção A, confiava no meu regresso ao FC Porto. Acontece é que eu estava num estágio da seleção, quando recebi um telefonema do presidente da União de Leiria, a informar-me que seria reforço do clube. Ninguém do FC Porto me tinha dito nada e só quando o início da pré-época se deu, é que me disseram que tinha mesmo de ir. O FC Porto tinha contratado o João Paulo e eu fui emprestado, juntamente com o Paulo Machado e o Ivanildo, para lá. Eu não queria ir para a União de Leiria, mas o FC Porto não me deu alternativa. Ainda lhes pedi para regressar ao Estrela, uma vez que tinha sido muito feliz lá, mas eles foram intransigentes e tive de aceitar.
Praticamente não fiz pré-época, porque ainda estava a recuperar da fratura no pé que sofri no Portugal x Sérvia no Euro sub-21, e apesar da União de Leiria ter um belíssimo guarda-redes, o Fernando Prass, eu comecei o campeonato a titular. Logo na estreia, fiz uma grande exibição contra o FC Porto no Estádio do Dragão, mas no jogo seguinte, tive a infelicidade de cometer um erro e nunca mais fui titular.
O treinador era o Domingos Paciência, que já me conhecia da equipa B do FC Porto, mas decidiu meter-me no banco à 3ª jornada e nunca mais voltei a jogar. Ter sofrido uma lesão grave, ter perdido o Mundial de 2006, não ter feito a pré-época e depois ter saído da equipa titular por ter cometido um erro, afetou-me muito psicologicamente.
Fiquei sem confiança e em dezembro pedi para sair, mas não me deixaram. Um guarda-redes precisa de esperar uma oportunidade e se ao primeiro erro que comete, é afastado da equipa, os níveis de confiança baixam radicalmente. Podemos olhar para o exemplo do Rui Patrício que não teve um início de carreira fácil, mas contou com a preciosa ajuda do Paulo Bento que nunca lhe retirou a confiança. Ele hoje é o guarda-redes que é, sobretudo pela sua qualidade, mas ter tido um treinador que confiou no seu trabalho, foi meio caminho andado para chegar a este nível tão elevado.
Domingos Paciência, abandonou o comando técnico da União de Leiria a 8 jornadas do fim da época 06/07, por alegados desentendimentos com alguns jogadores. Paulo Duarte assumiu a liderança da equipa e os leirienses terminaram o campeonato em 7º lugar.
Fui emprestado ao Varzim, já no último dia do mercado da época 07/08. Estive um ano sem jogar em Leiria, o FC Porto avisou-me que não fazia parte dos planos para essa época, e até ao último dia, houve indefinição acerca do meu futuro. Disseram-me que ou ia para o Varzim, ou que ficava na equipa B e eu voltei a não ter grande alternativa e aceitei. O Varzim estava na II Liga, já tinham disputado alguns jogos e o Bruno Conceição que era o guarda-redes da equipa, estava a ter boas prestações e eu tive de esperar pela minha oportunidade.
Acabei por jogar mais vezes do que no ano anterior, mas muito menos do que no Estrela. Em dois anos não me valorizei e isso pesou no desenrolar da minha carreira.
A uma semana do final do ano de 2007, Diamantino Miranda foi demitido do cargo de treinador do Varzim. Os poveiros ficaram em 9º lugar na exigente II Liga. Bruno Vale jogou somente 7 jogos na competição.
Antes de me desvincular do FC Porto, estive emprestado ao Vitória Futebol Clube e ao Belenenses. Lamento não ter tido oportunidade de mostrar o meu valor na equipa principal do FC Porto e sinto que a falta de confiança foi decisiva para isso. Era um guarda-redes muito jovem e precisava de me sentir apoiado. Em todos os clubes que estive emprestado, não consegui jogar tanto como no ano do Estrela da Amadora e não duvido de que se fosse hoje, teria insistido mais com o FC Porto para ficar mais um ano no Estrela.
Estou seguro de que alcançaria melhores resultados e maior evolução. Ao longo dos anos, muitas pessoas associaram as minhas convocatórias para a seleção, em detrimento do Vítor Baía, como fator responsável para o meu afastamento do clube, mas nunca quis acreditar nisso. É verdade que cheguei a ser impedido de entrar no centro de estágio do clube, que fui quase sempre obrigado a ser emprestado, mas eu sou o que sou hoje, graças ao FC Porto. Deram-me tudo e estou grato ao clube pela formação que me deu, sem eles, eu não teria alcançado a carreira que tenho. Eu próprio assumo que cometi alguns erros que condicionaram a minha afirmação, mas por outro lado, sinto que merecia uma oportunidade mais efetiva, por todo o percurso na formação, quer no FC Porto, quer na seleção.
Bruno Vale esteve 13 anos ligado ao FC Porto. Durante a sua trajetória na formação, foi apontado por muitos como natural sucessor de Vitor Baía.
Em 2010/2011 era um jogador livre e comecei a receber algumas propostas. Senti que precisava de ir para um clube que manifestasse muita vontade em contratar-me, e por isso, decidi-me pela Oliveirense.
O presidente na altura veio ter comigo ao Porto, falámos e notei que estava muito interessado em mim.O próprio projeto do clube, também me seduziu. A Oliveirense estava na II Liga, mas eu precisava de integrar uma equipa, que me desse segurança de que seria titular. Recusei propostas da I Liga, exatamente por recear que a falta de oportunidade de jogar voltasse a acontecer. Eu queria jogar e provavelmente nas equipas que me contactaram, voltaria a ser “só mais um”. Fiz bem em ter ido para a Oliveirense, assumi-me como titular e só faltou termos conseguido a subida, estivemos perto, mas infelizmente não aconteceu.
Nas 2 épocas que esteve em Oliveira de Azeméis, Bruno Vale realizou 64 jogos em todas as competições. Nos 4 anos anteriores, jogara somente 40 vezes, entre passagens por União de Leiria, Varzim, Vitória FC e Belenenses.
Nas épocas em que estava a ser constantemente emprestado, o meu empresário procurou sempre encontrar solução para mim. Chegou a haver possibilidade de jogar no estrangeiro, mas as coisas nunca se concretizaram.
Entretanto já estava na Oliveirense, quando apareceu o Apollon Limassol.
Eu tinha acordado com o presidente, que caso aparecesse uma proposta mais vantajosa de outro clube, deixavam-me sair. Tinha assinado por três anos e no final da minha segunda época, despedi-me da Oliveirense e fui para o Chipre. Quando recebi a proposta do Apollon, comecei logo a pesquisar na Internet informações do clube, o seu historial, quem eram os jogadores, etc etc… fui falando com alguns colegas que já tinham estado no Chipre e havia aquele receio acerca da instabilidade financeira dos clubes cipriotas, dos salários em atraso que eram muito comuns, mas mesmo assim, decidi arriscar e ir.
Na altura que eu assinei tinha chegado um presidente novo, com outra mentalidade e dos sete anos que lá estive, não vivi nenhuma situação complicada, referente ao atraso nos salários. Encontrei no Apollon uma estrutura impecável, bem organizada, muito melhor do que eu estava à espera. Tinham centro de estágio, excelentes condições de trabalho e do ponto de vista humano, eram extraordinários, sempre que eu precisava de alguma coisa, estavam sempre prontos para ajudar, nunca faltaram com nada. Fui muito bem tratado desde o início e a minha adaptação foi fácil. No Chipre, o verão dura praticamente seis meses e adorei viver lá. Apesar de ter estado lá sete anos, não aprendi a falar grego. É uma língua muito difícil e para além disso, no nosso balneário falava-mos sempre em inglês, como tal, não tive a necessidade de aprender o idioma.
Nos últimos anos a qualidade do campeonato e das equipas cipriotas têm crescido imenso. As pessoas não têm a noção da qualidade das equipas de lá. No ano em que eu vim embora, estavam três equipas cipriotas na fase de grupos da Liga Europa e não é fácil para um país tão pequenino consegui-lo. É preciso disputar quatro playoffs para lá chegar. O primeiro começa logo em julho, sendo que a época acaba em maio, é muito complicado preparar esses jogos. O mais difícil mesmo, é ultrapassar o último adversário nos playoffs, porque são sempre equipas que têm orçamentos muito superiores aos dos cipriotas e que disputam ligas altamente competitivas. Logo no primeiro ano que disputei os playoffs, eliminámos o Nice, que tinha sido terceiro classificado na liga francesa. Chegámos a eliminar o Lokomotiv de Moscovo, onde jogava o Manuel Fernandes e até dizíamos entre nós, que só o ordenado anual dele, dava para cobrir o nosso orçamento da época. E no meu último ano, afastámos o Basileia que ia à Liga dos Campeões consecutivamente há onze temporadas.
Face à pandemia de Covid-19, a Liga cipriota 19/20 foi cancelada sem se ter atribuído campeão, nem descidas de divisão. APOEL, Apollon, Anorthosis e Omonia foram os representantes cipriotas nas competições da UEFA. Dos quatro, só o Omonia consta na fase de grupos da Liga Europa, após ter perdido para o Olympiakos de Pedro Martins, no playoff de aceso à Liga dos Campeões. Todos os outros clubes, foram eliminados nas pré-eliminatórias da Liga Europa.
Os adeptos são verdadeiramente apaixonados pelo Apollon. Na minha época de estreia, ficava assustado com o clima que se vivia nos jogos. Haviam confrontos entre adeptos e polícia, muita violência dentro e fora dos estádios. Isso impressionava-me pela negativa. Acontece é que depois comecei a ver as coisas com normalidade, e a partir daí, já nada me surpreendia. Atualmente as coisas estão mais calmas, começou a haver penalizações mais pesadas e a própria evolução do futebol no país, contribuiu para que o ambiente entre os adeptos ficasse mais pacífico, felizmente
Apesar do ambiente no futebol cipriota ter melhorado significativamente, no início do ano 2020, a Liga esteve suspensa em virtude da greve dos árbitros no país, motivada por um ataque bombista ao carro de um árbitro. Esses acontecimentos ocorreram num contexto de suspeitas relacionadas com alguns jogos do Campeonato, que poderiam ter sido manipulados para favorecer esquemas de apostas. Já em 2011, a UEFA indicou à federação cipriota 84 jogos suspeitos , porém, ainda ninguém foi condenado.
Os cipriotas gostam muito de futebol, vibram muitos com as suas equipas e como o Chipre é um país pequeno, todas as jornadas há pelo menos um derby e são jogos sempre escaldantes. Ganhei três taças do Chipre, sendo que a primeira foi logo no meu ano de estreia. Ganhámos ao AEL Limassol, que era treinado pelo Jorge Costa, eu defendi uma grande penalidade perto do final do jogo, que estava empatado a uma bola e no prolongamento acabámos por ganhar 2-1.
O AEL e o Apollon dividem o mesmo estádio, há uma grande rivalidade entre esses dois clubes e ter defendido esse penalty, tornou-me um ídolo para os adeptos. Já se passaram quase dez anos desse jogo, mas ainda hoje recebo mensagens dos adeptos a agradecerem-me por lhes ter proporcionado tamanha alegria.
Sinto-me muito orgulhoso pelo que fiz no Apollon, ganhei títulos importantes, ajudei o clube a chegar à Liga Europa e só lamento não ter conseguido ser campeão. O Apoel tem muito poder no Chipre, nos últimos dez anos foram campeões nove vezes e nós ficámos sempre perto do objetivo.
Bruno Vale fez cerca de 300 jogos pelo Apollon. O clube não é campeão desde 2005/2006.
Foram acontecendo algumas coisas estranhas que nos impediram sempre de chegar ao título, mas o que mais gosto de relevar, foi o esforço e a dedicação que a nossa equipa sempre teve ao longo desses anos. Acredito que o Apollon no futuro terá muito sucesso e que o principal título seja alcançado em breve.
É um clube muito especial para mim, com adeptos maravilhosos e que eu tentei retribuir todo o apoio e carinho que me deram, com trabalho. Acho que sou o jogador estrangeiro com mais jogos ao serviço do clube, as minhas luvas estão em exposição no museu do Apollon, retiraram o número 83 das camisolas em minha homenagem e organizaram um jogo para a minha despedida. É impossível ficar indiferente a tantas manifestações de carinho e respeito, e considero-os a minha segunda família. Foi uma honra ter jogado lá.
O APOEL é o clube mais titulado do Chipre. São 28 campeonatos conquistados e 21 Taças do Chipre. O português Nuno Morais, jogou no clube 12 temporadas e ganhou 9 títulos de campeão.
A minha esposa estava grávida da minha segunda filha, a minha mais velha ia entrar para a escola, e apesar de ter mais um ano de contrato com o Apollon, decidi regressar a Portugal. No meu último ano no Chipre, eu fiquei praticamente o tempo todo sozinho porque elas já estavam em Portugal e a minha decisão em regressar, teve mais a ver com o aspeto familiar. O Pedro Miguel que tinha sido meu treinador na Oliveirense e curiosamente estava a treinar a equipa outra vez, ligou-me, estavam a precisar de um guarda-redes e assinei por eles com naturalidade
A Oliveirense atualmente está a passar por uma renovação, criaram uma SAD, remodelaram o estádio e a pouco e pouco, estão a criar condições para que no futuro possam subir para a I Liga. Esta época estava a contar jogar mais vezes, mas a minha forma também já não era a melhor. Infelizmente a época teve de terminar pelos motivos que todos sabemos e eu decidi encerrar a minha carreira no futebol profissional.
Ainda não sei o que vou fazer, mas certamente que será algo ligado ao futebol. Jogo desde os 9 anos, é uma vida dedicada ao desporto, e possivelmente irei tirar uma formação de treinador de guarda-redes. Acho que a prática e o conhecimento da função de guarda-redes é fundamental, mas ter uma formação, não é menos importante. Hoje dá-se muita atenção a certos aspetos no trabalho do guarda-redes, que não haviam no meu tempo de formação. Não é estar a criticar, mas a verdade é que dantes os treinos dos guarda-redes, eram muito básicos, muito virados para os remates à baliza, cruzamentos, não havia uma dedicação tão grande em determinadas situações que hoje acontecem. O próprio jogo foi sofrendo alterações, os guarda-redes são cada vez mais solicitados para jogarem com os pés e isso é fruto de muito trabalho. Hoje assistimos a um Alisson, a um Ter Stegen a saírem da área e a jogarem com os colegas com uma naturalidade impressionante e creio que o futuro dos guarda-redes, passará muito por aí.
Sinto-me muito orgulhoso pelo que fiz, dei tudo pelos clubes que representei, pela seleção, cumpri vários sonhos de infância e independentemente do que farei no futuro, terei sempre o mesmo espírito solidário, sempre com muita vontade de ajudar e contribuir para o sucesso de todos.