
Eu nasci em Acaiaca, uma pequena cidade de 4.000 habitantes, no estado de Minas Gerais. O meu pai era apaixonado por futebol, a minha mãe também gostava muito e os meus irmãos mais velhos todos jogavam à bola. Na minha infância, foram eles as maiores referências para mim. Eu com apenas 3 anos de idade, já jogava com eles e com outros meninos da minha cidade, lá nos campos perto da minha casa.
Acaiaca é uma cidade muito humilde, os campos de futsal só apareceram quando eu já estava no Cruzeiro, então foi mesmo na rua, no “terrão”, onde os campos estão cheios de poeira que eu comecei a jogar. Fazíamos aquelas balizas pequenas, espaços reduzidos e isso também ajudou muito a adquirir técnica. Mais tarde, entrei para o Independente de Acaiaca e foi lá que iniciei a minha carreira. Foram momentos muito especiais, que eu guardo para sempre no meu coração.
Na minha infância era muito difícil ter acesso aos jogos de futebol. Eram transmitidos poucas vezes pela televisão, e via-se mais o Campeonato Carioca. Felizmente hoje já temos acesso ao futebol nacional e internacional, mas naquela época, era muito raro ver jogos. Eu gostava muito do Romário, porque para além dele ter sido um grande goleador, eu tinha uma estatura semelhante à dele, mas sem dúvida nenhuma, que foram os meus irmãos que mais admirava quando era pequenino.
Romário, “O Baixinho”, é um dos maiores goleadores da história do futebol. Campeão do mundo em 94, ano em que conquistou também o prémio de melhor jogador do mundo. Foi internacional em 70 ocasiões, tendo apontado 55 golos. Em 2005, já com 40 anos, foi o artilheiro do Brasileirão, atuando ao serviço do Vasco da Gama. Aposentou-se em 2009 e ingressou no mundo da política. É Senador do Rio de Janeiro, desde 2015.
No ano de 94 eu fui fazer um teste de captação ao Cruzeiro. Estavam lá 300 jogadores e eu disse que era médio defensivo, por ser a posição que estava a ser menos escolhida pelos outros meninos. Já estava a anoitecer quando tive a minha oportunidade, treinei 10 minutos e acabei por convencer a equipa técnica das minhas qualidades. Mandaram-me voltar no dia seguinte, lá fui eu de novo e voltei a treinar bem. Depois mantive-me no Cruzeiro até à equipa principal.
Os meus primeiros meses não foram fáceis. De minha casa até ao Centro de estágio do Cruzeiro, eram sempre 2 horas de caminho. Ainda para mais ia de autocarro e foi duro. Depois pedi aos responsáveis do clube para ir viver na Toca da Raposa e eles atenderam o meu pedido. Tinha somente 14 anos, sentia muitas saudades da minha família, da comidinha da minha mãe… foi uma adaptação lenta e difícil, mas no fim de estar totalmente integrado, comecei a viver mais tranquilo. Passei a ter mais tempo para descansar, para estudar e viver ali com os meus companheiros, foi também uma excelente experiência. Pude também crescer dentro do clube, uma vez que estava praticamente 24h por dia na Toca da Raposa.
A “Raposa”, é a mascote do Cruzeiro. Foi desenhada por Fernando Pieruccetti em 1945, que se inspirou na astúcia e inteligência do ex-presidente Mário Grosso, na liderança dos destinos do clube. A Raposa, é ainda conhecida por ser um animal que se alimenta de galináceos, uma alusão óbvia ao maior rival, o Atlético Mineiro, conhecido como “Galo”.
Por volta dos meus 15, 16 anos, o meu corpo começou a desenvolver-se. Os meus irmãos são altos e até o meu pai tinha 1,80m , só que eu sempre fui baixinho e franzino. Cheguei a ouvir alguns comentários pouco positivos sobre a minha estatura e isso deixava-me triste. Porém, concentrei-me nas minhas maiores qualidades, como a velocidade, mudança de direção, arranque e explosão, para suportar as carências em torno do meu porte atlético. O meu remate forte, foi inspirado nos meus irmão, desde pequeno que eles puxaram por mim e incentivaram-me sempre a trabalhar a técnica do remate, que tanto jeito me deu ao longo da minha carreira. Não posso deixar de sublinhar também, que apesar de ser baixinho, fiz bastantes golos de cabeça. Alguns deles muitíssimo importantes.
Heurelho Gomes, Bruno Viana, Wallace, Luisão, Maicon, Maxwell, Célio Lúcio, Ricardinho, Lucas Silva, Cléber Monteiro, Guilherme, Dudu e Ronaldo Fenómeno, são alguns dos jogadores revelados no Cruzeiro.
O ano de 1997, foi muito importante para mim. Fui convocado para a seleção brasileira sub-17, fui campeão da Copa Sul Americana e campeão mundial, algo que o Brasil nunca tinha conquistado na categoria. Estive em bom plano na Copa Sul Americana e fiz o 2º golo na final contra a Argentina. Nessas duas competições, tive o privilégio de jogar e de ser colega de quarto do Ronaldinho Gaúcho.
A imprensa ainda não o conhecia, mas eu tive a honra de acompanhar a evolução desse fenómeno do futebol mundial, que já com 16 anos era um jogador incrível. Conheci a mãe dele e o irmão, o Assis, que também foi um excelente jogador. Só lamento não ter tido oportunidade de jogar com o Ronaldinho num clube, mas é um orgulho para mim, ter jogado nas seleções da base ao lado desse craque do futebol mundial.
O Campeonato Sul-Americano Sub-17 1997, foi disputado no Paraguai. O Brasil chegou à fase final após ter ultrapassado Chile, Colômbia, Uruguai e Bolívia. Na fase final, os brasileiros golearam o Paraguai por 5x0, o Chile por 5x3 e bateram na final, os grandes rivais da Argentina por 2x1.
Seis meses depois, o Brasil sagrou-se campeão do mundo pela 1ª vez na categoria. O Egito foi o país anfitrião do Mundial, que viu “nascer” : Ronaldinho Gaúcho, Matuzalém, Geovanni, Xavi Hernandez, Iker Casillas, Weidenfeller, Sebastian Kehl, Deisler, Gabriel Milito, Luciano Galletti e Seydou Keita. Na final disputada no Cairo, o Brasil levou a melhor sobre o Gana : 2x1.
Em 1998, depois de tanta glória alcançada pela seleção, fui emprestado ao América Mineiro. Foi sem dúvida a melhor coisa que me aconteceu. Tive a oportunidade de disputar o Brasileirão, algo que não iria acontecer, se ficasse no Cruzeiro. Eles tinham contratado muitos jogadores e não teria espaço na equipa. Foi importante o meu empréstimo, porque para além de somar jogos e experiência, amadureci enquanto pessoa também. Foi bom ter mudado de ares, ganhar responsabilidade e tive um desempenho muito bom nessa época. Joguei com grandes jogadores, fui muito bem recebido por todos, desde a direção até à equipa técnica, então, só tenho mesmo a agradecer ao América Mineiro, por tudo o que fez por mim.”
O Cruzeiro disputou a final do Brasileirão de 98 contra o Corinthians. Após dois empates registados, o título sorriu ao “Timão”, que venceu por 2x0 no jogo de desempate. O América Mineiro acabou relegado para a Série B, depois de ter ficado em 21º lugar da tabela. Apesar da descida, o América Mineiro chegou às meias finais do Campeonato Mineiro e aos “oitavos” da Copa do Brasil. Geovanni jogou 17 jogos e apontou um golo.
Depois do empréstimo ao América, regressei ao Cruzeiro. O ano de 99 foi positivo, tive algumas oportunidades de jogar e tudo se encaminhou, para que no ano 2000 eu explodisse. 2000 foi um ano extraordinário para mim.
Deixei de ser visto como uma promessa, para ser um efetivo na equipa. Assumi a responsabilidade e tornei-me num jogador decisivo no plantel. Conquistámos a Copa do Brasil, fiz golos nos quartos, nas meias e na final.
O golo da final contra o São Paulo, tornou-me um ídolo para os adeptos do Cruzeiro. Foi um golo muito bonito, de livre direto, contra um dos maiores guarda-redes da história do futebol brasileiro, Rogério Ceni. No momento que eu estava a ajeitar a bola para bater o livre, pensei em rematar colocado, mas o Muller, disse-me para bater forte. A bola passou pelo meio da barreira e o estádio foi ao rubro. A minha família estava nas bancadas, foi um dos momentos mais emocionantes da minha carreira.
Luís Antônio Corrêa da Costa, conhecido por Muller, participou em 3 mundiais ao serviço da seleção brasileira e foi campeão do mundo em 94, nos Estados Unidos da América. Foi um dos melhores jogadores brasileiros da sua geração e jogou nos 4 principais clubes de São Paulo. Chegou à Europa para jogar no Torino e foi considerado o melhor jogador do Calcio em 89.
Fui convocado para os Jogos Olímpicos de Sidney. Tínhamos uma seleção muito forte e havia a esperança de conseguirmos trazer a medalha de ouro para o Brasil, o que seria inédito também. Infelizmente nós não conseguimos chegar à final, por um mero detalhe. Poder participar nas Olimpíadas, é o sonho de qualquer atleta e comigo não foi diferente. Foi realmente uma pena não termos sido campeões, mas valeu pela participação.
O Brasil foi afastado dos Jogos Olímpicos nos quartos de final, pelos Camarões. Apesar do favoritismo, os brasileiros não conseguiram ultrapassar os Camarões, que ainda viram 2 jogadores serem expulsos durante o tempo regulamentar. Após um empate a uma bola nos 90 min, Modeste M´Bami deu a vitória aos africanos, que acabaram mesmo por conquistar a medalha de ouro.
Vanderlei Luxemburgo era o selecionador da “canarinha” e no elenco constavam alguns nomes como : Helton, Ronaldinho Gaúcho, Fábio Aurélio, Lúcio, Roger Flores, Edu, Alex Souza, Marcos Paulo, ou Athirson. Ivan Zamorano, foi o melhor marcador do torneio com 6 tentos e ajudou o Chile a conquistar o bronze.
Em 2001, voltei a marcar presença numa competição internacional. Fui para a Copa América, na Colômbia, mas o desempenho da seleção voltou a ser mau. Acabou por ser a minha última participação num torneio pela seleção, mas foi um orgulho representá-la desde os escalões de formação até à principal.
Na minha época existiam grandes jogadores, outros tantos ficavam de fora das convocatórias e então, eu não guardo mágoa por não ter tido mais chances. Foram anos muito ricos do futebol brasileiro e acredito que se jogasse nos dias de hoje, somaria mais convocatórias. Não é que não haja qualidade atualmente, mas na minha época, a concorrência era efetivamente maior.
A Copa América de 2001, teve a Colômbia como anfitriã. O Brasil comandado por Luiz Felipe Scolari, foi afastado dos quartos de final pelas Honduras (2x0), que curiosamente ocuparam a vaga deixada pela a Argentina, que desistira, uma vez que estes alegaram que a Colômbia não oferecia condições de segurança para a sua comitiva. A Colômbia venceu a competição, após derrotar o México na final (1x0) tendo sido a primeira e única conquista dos “cafeteros” em toda a história.
Destaquei-me bastante nas duas últimas épocas no Cruzeiro e com 21 anos fui contratado pelo Barcelona. Estive em grande plano na Copa Libertadores, apontei 7 golos e fui o melhor marcador da equipa. Infelizmente fomos eliminados nos quartos de final pelo Palmeiras, mas acredito que com um bocadinho de sorte, pudéssemos ter sido campeões da competição.
Os quartos de final entre Palmeiras e Cruzeiro, foi decidido através de penalties. Após dois empates (3x3) e (2x2), os paulistas levaram a melhor sobre os mineiros. A competição foi conquistada pelo Boca Juniors, que eliminara o Palmeiras nas meias até bater os mexicanos do Cruz Azul na grande final.
Quando cheguei ao Barça, fui muito bem recebido pelo meu amigo Rivaldo. Ele ajudou-me muito, assim como o Fábio Rochemback, o Thiago Motta, Valdés, Puyol, Xavi, Cocu…enfim, todos foram importantes na minha adaptação.
Tive algumas dificuldades no início : não falava castelhano, catalão muito menos e o próprio futebol era diferente daquele que estava habituado no Brasil. Na Europa a relva é mais curta, o jogo é mais rápido, assim que dominamos a bola, aparecem logo vários adversárias para te a roubarem… já assim, acabei por fazer vários jogos para ano de estreia. O nosso treinador era o Carles Rexach que me deu muita confiança, fui muitas vezes titular e jogar no Camp Nou, foi um sonho que realizei. O Barcelona é um clube grandioso, muito popular em todo o mundo e aqui no Brasil, representa muito para as pessoas.
No verão de 2001, o FC Barcelona contratou Geovanni a troco de 18 milhões de dólares. Os catalães chegaram às meias-finais de Liga dos Campeões, onde foram eliminados pela Juventus, que viria a perder a final frente ao Milan. Geovanni jogou 32 jogos e marcou 1 golo.
O Louis Van Gaal veio para o lugar do Rexach e eu acabei por perder espaço na equipa. Eu sei que ele teve alguns problemas com vários jogadores, não só no Barça, como em outros clubes por onde passou, mas comigo, foi sempre impecável. O clube fez muitas contratações, vieram jogadores que no momento estavam melhores que eu, portanto tenho de ser justo com ele. Na verdade, o Van Gaal gostava muito de mim e quis me dar oportunidades, eu é que era muito imaturo e não quis esperar. A nossa equipa jogava em 3x4x3 e ele queria que eu funcionasse como lateral direito, a fazer o corredor todo.
Eu tinha poucas noções defensivas, mas o treinador deu-me sempre muita atenção, corrigia o meu posicionamento e confiava no meu potencial. O problema é que eu sempre preferi jogar no ataque, naquela altura era muito jovem e precipitei-me quando pedi para sair. Acredito que se tivesse permanecido, se trabalhasse na minha evolução nessas funções, poderia ter escrito uma história muito gloriosa no clube. Eram outros tempos, hoje os jogadores quando saem do Brasil vão com outra preparação e faltou-me maturidade. Para se ter sucesso num clube dessa dimensão, tem de se ter primeiro uma experiência num de menor exigência, para que o jogador se possa adaptar à realidade do futebol europeu, a fim de estar pronto para o desafio. Foi uma experiência maravilhosa, estreei-me na Champions, no futebol europeu, joguei com grandes jogadores e apesar de não ter tido muito sucesso, estou ciente de que jogar no Barcelona não está ao alcance de qualquer um e eu tive esse privilégio.
Louis van Gaal somou duas passagens pelo Barcelona. A primeira, entre 1997 a 2000, onde conquistou 2 ligas e uma Copa do Rey. Apesar do sucesso, o holandês não teve vida fácil na Catalunha, tendo chegado a acusar os jogadores de boicotarem o seu trabalho. O caso mais mediático foi com o internacional brasileiro Rivaldo, uma vez que o treinador insistia em colocá-lo no corredor esquerdo, sendo que o jogador defendia que era no centro que devia jogar.
Retornou ao Barça em 2002, após ter liderado a seleção holandesa, uma passagem fracassada devido à ausência da Holanda no Mundial da Coreia e Japão. O seu regresso à Catalunha também não foi feliz : deixou os blaugrana ao fim de 11 jogos, a 20 pontos do líder Real Sociedad e a 3 da zona de despromoção.
Cheguei ao Benfica dia 11 de janeiro de 2003, data que completei 23 anos. O José António Camacho quis muito a minha contratação, ele, juntamente com o Pep Carcélen, foram muito importantes para mim. São 2 pais no futebol, como se costuma dizer. Na verdade, eu estive para ingressar no Benfica alguns anos antes, quando num jogo Cruzeiro x Benfica, para a Copa Centenário, fiz uma boa exibição e marquei um grande golo.
Logo aí, surgiram os primeiros contactos, só que o Cruzeiro não me libertou. Fiquei muito feliz com o interesse do Benfica. Na minha infância, eu já seguia o clube. Até, costumava escolher o Benfica no “ Jogo do Botão”, então, como podem imaginar: ter 17 anos e haver a possibilidade de jogar num clube gigantesco, era o sonho de qualquer um. Mas Deus sabe todas as coisas e mais tarde acabei mesmo por jogar no Glorioso.
O Benfica é um clube muito especial para mim, deu-me todo o suporte sempre que precisei. Felizmente eu pude retribuir com títulos. Ganhámos a Taça de Portugal ao FC Porto, uma semana antes deles terem sido campeões europeus e nesse ano, eu marquei um dos melhores golos da minha carreira em Alvalade.
Lembro-me como se fosse hoje : comecei essa partida a suplente e quando estava prestes a entrar, virei-me para o banco e disse que na primeira oportunidade, chutaria para a baliza. Ainda ameacei com um tiro ao lado, antes de fazer o golo da vitória que nos garantiu o segundo lugar no campeonato. No ano seguinte, conquistámos a Liga Portuguesa que fugia ao clube há tantos anos e foi marcante. Aquela festa toda, desde o Estádio do Bessa até Lisboa é algo inesquecível. Tínhamos um grupo fantástico, com grandes jogadores, um coletivo muito unido e que foi premiado com a conquista desses títulos.
Em 2004/2005 o SL Benfica quebrou um jejum de 11 épocas sem ganhar o título nacional. Os encarnados somaram 65 pontos (+3) que o rival FC Porto, que foi 2º. Moreirense, Estoril e Beira-Mar desceram para a II Liga. Liedson, foi o melhor marcador do campeonato com 25 golos.
A morte do Miki foi o acontecimento mais trágico que vivi na minha carreira. Ele era um grande amigo, acarinhado por todos, tão jovem… doeu muito a sua partida. Aqueles dias de tristeza e angústia, marcaram o nosso grupo e aos adeptos também. Foi muito duro porque tu comes, brincas, treinas e jogas com um amigo e num instante ele morre. Nós tivemos a força necessária para dar a volta por cima, conseguimos unir-nos e no final dedicámos todos os títulos a ele.
A Liga dos Campeões é muito difícil. As melhores equipas do mundo competem entre elas e os jogos são muitas vezes definidos por detalhes. No Benfica, tive o prazer de ajudar a equipa a fazer uma grande campanha. Ainda hoje me falam do golo que apontei ao Manchester United, quando ganhámos 2×1 na Luz e carimbámos a passagem para os oitavos, onde eliminámos o Liverpool que era o detentor do título. Nos quartos de final, merecíamos melhor sorte, depois de um empate a zero em casa, estávamos confiantes para o jogo de ida em Camp Nou, contra o Barcelona
Apesar deles terem ido a ganhar 1×0 para o intervalo, nós conseguimos fazer uma belíssima segunda parte e perto do final, o Simão quase fez o 1×1 que nos deixava nas meias. Depois, num contra ataque o Eto`o fez 2×0 e matou a eliminatória. O Benfica tem tido bons plantéis, mas infelizmente não tem feito bons desempenhos na Champions nos últimos anos. Acredito que num futuro próximo, o clube possa voltar a sonhar com a conquista da prova. Temos um exemplo recente, o Tottenham. Ninguém acreditava neles e eles foram andando até à final de há duas épocas. Quem sabe, não possa acontecer ao Benfica o mesmo, em breve?
Comandado por Ronald Koeman, o Benfica chegou aos quartos de final da Champions, algo que não acontecia desde 94/95. Depois da época 05/06 o Benfica só voltou a marcar presença entre as 8 melhores equipas da Europa por 2 vezes (11/12) e (15/16).
Não cheguei a acordo com a direção para renovar e decidi voltar ao Cruzeiro. Passei 3 épocas e meia maravilhosas no Benfica e teria sido lindo, fazer uma trajetória igual à do Luisão. Acontece que no futebol, as coisas nem sempre acontecem como nós desejamos.
Eu também já estava há muitos anos fora do Brasil, longe da minha família, dos meus amigos e o regresso ao Cruzeiro, deu-se de uma forma natural. Acabei por não ficar muito tempo e rescindi o meu contrato. As coisas não correram da maneira que esperava e voltei à Europa.
Em 2007/2008 surgiu a possibilidade de representar o Portsmouth. Estive algumas semanas à experiência no clube e o treinador era o Harry Redknapp. As coisas estavam a correr bem, fiz golos em alguns jogos amigáveis e os adeptos já entoavam o meu nome e tudo. Acontece que a direção estava a demorar muito tempo a negociar o meu contrato e eu acabei por não ficar. Nesse período, criei uma grande amizade com o português Pedro Mendes. Eu não sabia falar inglês e ele deu-me uma preciosa ajuda, para comunicar com o treinador, jogadores e direção. Sempre que eu precisava de alguma coisa, lá estava o Pedro para me ajudar.
Pedro Mendes, ex médio internacional português, formado no Vitória SC, campeão nacional e europeu ao serviço do FC Porto, jogou no Reino Unido entre 2004 e 2010, onde representou o Tottenham, o Portsmouth e o Glasgow Rangers. Regressou ao nosso país para jogar no Sporting e terminou a sua carreira no Vitória SC.
Esperei imenso tempo pela proposta do Portsmouth, mas ela tardou em chegar. Entretanto apareceu a oportunidade de jogar no Manchester City e não hesitei. O treinador era Sven-Goran Eriksson e ele tinha muitas referências minhas
A minha chegada ao clube e os meus primeiros meses não podiam ter sido melhores. Joguei vários jogos, marquei alguns golos, inclusivamente o da vitória no derby de Manchester e os adeptos começaram a idolatrar-me. O Manchester City ainda não tinha o poder que tem hoje, mas já se começava a reforçar com jogadores de classe mundial e que em muitos casos tinham sido bastante caros. A partir de um certo momento eu deixei de jogar, passei a ficar ou no banco ou fora das convocatórias e sabia que os motivos nada tinham a ver com os meus desempenhos. Eu tinha reforçado o clube a custo zero e começou a haver pressão, para que o treinador utilizasse os jogadores mais caros. Eu que tinha assinado livre, acabei por sair prejudicado. Fiz somente uma época no City.
No verão de 2007, o Manchester City desembolsou em contratações, qualquer coisa como 60 milhões de libras. Elano, Bianchi, Petrov, Bojinov e Caicedo, foram alguns dos jogadores contratados pelos citizens. Na Premier League, a equipa ficou em 9º lugar e os rivais de Manchester foram os campeões. Geovanni jogou 23 jogos e marcou 3 golos.
Como perdi espaço no Manchester City, decidi sair e fui jogar para o Hull. Foi uma decisão acertada, porque me tornei num ídolo do clube. “Apadrinhei”, a sua chegada à Premier League e fui o primeiro jogador do clube a marcar um golo na competição. Histórico.
Joguei dois anos lá e até hoje recebo mensagens de adeptos, agradecendo tudo o que fiz pelo clube. Uma vez que o Hull não tinha os alicerces de outros na Premier League, fomos sentindo sempre várias dificuldades. No primeiro ano conseguimos assegurar a manutenção, mas no segundo já não a evitámos. Gostei tanto de jogar lá, que até estava concentrado em ajudar a equipa no Championship e a regressar à Premier League no ano seguinte. O problema, foi que os responsáveis do clube, quiseram que eu reduzisse os meus salários em 80%. Eu ainda tentei negociar, estava disposto a reduzir uma percentagem significativa, mas eles foram intransigentes. Era 80% ou nada. Como no meu contrato eu tinha uma cláusula que me deixaria livre em caso de despromoção, acabei por sair. Foi pena, queria muito ter ajudado o Hull, ainda hoje acompanho a vida do clube e fiquei muito triste por terem descido a época passada para a League I.
A 16 de Agosto de 2008, Geovanni entrou para a história do Hull, ao marcar o primeiro golo da história do clube na Premier League, na vitória de 2x1 frente ao Fulham. Nas duas épocas ao serviço dos tigers, Geovanni marcou 13 golos.
Troquei o frio e a chuva da Inglaterra, pelas praias e calor da Califórnia. Fui jogar uma época no San Jose, na MLS e foi uma experiência maravilhosa. A minha família deu-se muito bem lá, adaptaram-se rapidamente e eu gostei bastante de ter jogado na MLS. Atualmente, o futebol nos Estados Unidos já tem mais visibilidade e eu sinto-me orgulhoso por ter contribuído para a evolução do futebol norte-americano.
Depois de ter estado no San Jose, regressei ao Brasil para jogar no Esport Clube Vitória que estava na Série B do Brasileirão. Na minha época, as pessoas ainda olhavam para os jogadores acima dos 30 anos, como alguém que já não tinha capacidades para jogar num nível elevado. Eu estava com 31 anos, sentia-me bem, pude ajudar a equipa e os jogadores mais jovens a evoluírem.
Depois ainda regressei ao América Mineiro, que foi um clube que me tinha ajudado nos meus primeiros anos e pude retribuir anos depois, coma minha experiência. Acabei a minha carreira aos 33 anos, no Bragantino e lá aconteceu um episódio que até hoje está gravado no meu coração:
Um senhor já com os seus 80 anos, esperou por mim à saída do estádio e agradeceu-me por estar no Bragantino, que era um orgulho para ele, poder ver um jogador como eu, no seu clube. Então, são essas coisas que nos enchem o coração e que nos deixam orgulhosos. Todo o carinho dos adeptos, saber que eles sempre me respeitaram, saber também que tudo o que eu fiz ao longo da minha carreira foi de corpo e alma, representa muito para mim.
Depois de pendurar as chuteiras, juntei-me ao meu sogro ( que foi o meu empresário durante grande parte da minha carreira ) e ao meu amigo Cléber Monteiro, para agenciar a carreira de jovens jogadores. Posso contribuir com toda a minha experiência no futebol, para que eles possam ter um acompanhamento sério e dedicado em suas carreiras.