Idalécio Rosa - Entrevista - Farense - Trofense - Braga

Nasci em Alcochete, mas vivi até aos meus 12 anos no Montijo. Depois os meus pais separaram-se e eu fui viver com a minha mãe e o meu irmão para Loulé. Eu sempre gostei muito de atividades físicas, jogava ténis, basquetebol, pratiquei atletismo, mas o futebol foi sempre a minha grande paixão.

O Louletano Desportos Clube, fundado em 1923, destaca-se pelo seu ecletismo. Para além do futebol, modalidades como : ciclismo, ginástica, natação, polo aquático, artes marciais e futsal, são representadas pelo clube.

Sempre fui muito alto, desde criança. Quando estava no atletismo, a minha avó e a minha mãe tinham de ter sempre com elas a minha cédula de nascimento, para provarem que pertencia ao escalão dos outros miúdos. Quando entrei para o futebol, essa situação repetiu-se.

Eu não gostava de ouvir determinados comentários, sempre a duvidarem da minha idade, mas isso até acabou por ser um fator motivador para mim. Estava constantemente a ouvir coisas como :-” Olha ali aquele grandalhão, é muito mais velho do que os outros, o que é que está aqui a fazer? Vai já ganhar isto !”. Como é óbvio eu não gostava, mas procurava abstrair-me e ao mesmo tempo usar isso como motivação.

Idalécio mede 1,97m e foi por diversas vezes o jogador mais alto da I Liga.

Fiz toda a minha formação no Louletano, até chegar à equipa principal, isto quando ainda tinha idade de júnior.  Depois no segundo ano, assino o meu primeiro contrato profissional com o clube, e sou emprestado ao Almancilense, para jogar na III Divisão, e com isso, ganhar experiência, para depois estar mais preparado para jogar no Louletano

Nessa altura, os responsáveis do Farense foram falar com o Louletano, para me contratarem, mas como havia uma grande rivalidade entre eles, o clube não me libertou. O Farense estava no Nacional de Juniores, e eu acabei por ir para o Almancilense.

Na época 91/92 o Almancilense disputou a Série F da III Divisão. Somou 31 pontos nas 34 jornadas, garantindo a manutenção. O clube algarvio, foi o último que Jorge Jesus representou enquanto futebolista (89/90).

Foi uma mudança muito positiva, cresci bastante enquanto futebolista. Joguei em campos pelados, contra jogadores muito mais velhos, aprendi muito e no final senti uma grande evolução.

No ano seguinte regressei ao Louletano, que estava na II Liga. Eu não joguei tanto como na época anterior, tive poucas oportunidades para jogar e para piorar a situação, no ano seguinte nós acabámos por descer. Não joguei com a regularidade que pretendia e os próprios resultados não ajudaram muito a que a aposta em mim fosse mais efetiva

Depois de ter passado dois anos com poucos minutos, tive mais oportunidades e consolidei-me na equipa titular. Fizemos uma grande época, mas não conseguimos alcançar o objetivo que era regressar ao segundo escalão. Ficámos com os mesmos pontos que o Alverca, mas eles foram campeões em virtude do confronto direto contra nós.

Nos 2 jogos frente aos ribatejanos, o Louletano empatou em casa (0x0) e perdeu (2x1) em Alverca, resultados que decidiram o rumo do campeonato. Luís Filipe Vieira, era o Presidente do Alverca.
Lembro-me bem de ver grandes promessas no Louletano que não tiveram as oportunidades que eu tive. Tive muita sorte por terem acreditado no meu potencial e o facto das seleções jovens na altura terem conquistado grandes feitos, acabou também por influenciar as pessoas, a olharem mais para os jovens e a darem-lhes mais oportunidades.

Sou da geração do Nuno Espírito Santo, Pedro Henriques, Nuno Afonso, Porfírio, Andrade… e fui convocado algumas vezes para as seleções sub 18 e sub 21. 

Gostava de ter participado mais vezes, e de ter chegado à seleção A, mas infelizmente não aconteceu. De qualquer maneira, sinto-me orgulhoso por ter sido convocado nas camadas jovens.

Agostinho Oliveira e José Alberto Costa, eram os selecionadores das “Esperanças”.

Depois de ter chegado ao futebol profissional e à seleção, o meu pai foi começando a contactar algumas pessoas do meio. Foi aí que apareceu o Sr. Manuel Barbosa que comprou o meu passe. O Sr Manuel Barbosa adquiria os passes dos jogadores e depois emprestava-os a clubes interessados. Pagou 15.000 contos ao Louletano e fui para o Farense. Alguns colegas meus, como o Christian e o Helcinho também eram representados pelo Sr Manuel Barbosa e também estavam emprestados ao Farense.

Manuel Barbosa foi o primeiro agente, a ser reconhecido pela FIFA em todo o mundo. Foi um dos agentes de maior sucesso nos anos 80 e 90, responsável pela chegada de grandes craques internacionais ao nosso país, entre eles : Mozer, Valdo, Ricardo Gomes e Aldaír.

O Farense passava por muitas dificuldades financeiras e sofreram muitas alterações no plantel. Houve muita entrada e saída de jogadores e a nossa equipa foi composta por um misto de juventude e experiência. Eu, o Carlos Paixão, Jorge Soares, Christian, o Paiva, éramos dos mais jovens. Depois, haviam os jogadores mais velhos, como o Peter Rufai, Punisic, Hajry que tinha jogado no Benfica, o Carlos Costa , o Djuckic… entre outros.

Na época anterior o Farense tinha conseguido alcançar os lugares europeus, mas isso não foi suficiente para aguentar a maioria dos jogadores. O clube conseguiu formar um plantel interessante, eu fui muito bem recebido e a minha adaptação foi rápida. Eu também sempre levei o futebol muito a sério, então foi fácil chegar lá e impor-me.

Em 94/95 o Farense alcançou um histórico 5º lugar na I Liga. Comandados por Paco Fortes, o Farense somou 37 pontos (+1 que o UD Leiria). Hassan foi o melhor marcador do campeonato com 21 golos. O FC Porto foi campeão. União da Madeira, Beira-Mar e Vitória FC, foram relegados para a II Liga.

Na minha juventude, eu ia muitas vezes ver o Farense ao São Luís, de boleia com os meus amigos. Ver aquele estádio sempre lotado, era fascinante. Lembro-me de ver o Paco Fortes a jogar, e pensar -: “ Quem me dera poder jogar aqui um dia !”. Uns anos mais tarde, isso aconteceu e ainda por cima com o Paco Fortes a treinador. O Farense sempre teve muitos adeptos, se calhar depois dos três grandes e dos rivais do Minho, mais nenhum clube tem uma massa adepta tão fanática e fiel como o Farense. Mesmo quando desceram para as distritais, sempre tiveram muito apoio.

O Sporting Clube Farense, é o clube mais antigo e de maior historial do Algarve. Conta com 24 presenças no escalão principal do futebol português, 36 na II Liga (campeão 2 vezes) e com uma final de Taça de Portugal, disputada contra o Estrela da Amadora decidida na finalíssima em 89/90.
Apesar das dificuldades financeiras, conseguimos fazer uma época regular, foi pena termos saído cedo da Taça UEFA, mas também é bom recordar que perdemos contra um super Lyon.
Na sua primeira passagem pelos Leões de Faro, Idalécio disputou 26 encontros e marcou por 3 vezes. O Farense ficou em 10º lugar no campeonato, conquistado novamente pelo FC Porto. Na Taça de Portugal, os algarvios foram afastados nos oitavos-de-final pelo Benfica, que viria a ganhar a prova Rainha frente ao Sporting.
O Mister Paco Fortes era muito rigoroso e exigente com o empenho dos jogadores. Ligava muito à bravura e à dedicação do coletivo, de resto era uma extensão dele enquanto jogador. Pedia-nos sempre muita concentração nas marcações individuais, mas do ponto de vista técnico-tático não era muito virtuoso. Tinha um jeito muito peculiar de nos dar ordens, sempre muito emotivo. Era um líder

O ambiente que se vivia no estádio, ajudava-nos muito. Sempre que jogávamos contra adversários superiores, a adrenalina aumentava. Lembro-me de num jogo contra o Benfica, o Paco Fortes ter pedido ao Paixão para fazer marcação serrada ao João Vieira Pinto. Dizia-lhe -: “ Quero que marques o João Pinto, vai com ele para todo o lado, não o deixes respirar, se ele quiser ir à casa de banho, tu vais com ele!”. Era sempre muito difícil para os jogadores mais virtuosos terem sucesso nos jogos em casa do Farense.

Paco Fortes, conhecido como o “catalão mais farense” da história, jogou no FC Barcelona, no Málaga, no Espanyol e no Valladolid, antes de chegar ao Farense na época 84/85. Levou o clube à sua única presença no Jamor e à sua melhor classificação de sempre na I Liga. Retirou-se do futebol em 2008.

Essa equipa estava recheada de grandes personalidades do nosso futebol : Mister Paco Fortes, o Carlos Paixão que é uma referência do clube, o Peter Rufai que era um grande maluco… aconteceu algumas vezes o Farense não cumprir com o pagamento dos salários e quando isso acontecia, o Peter Rufai desaparecia. Ia para a Nigéria, ou para a Bélgica, não atendia as chamadas, não dava satisfações a ninguém e depois, sem saber como, às sextas-feiras lá regressava para ir treinar. Fazíamos uns remates à baliza e estava apto para ser titular no fim de semana. Era doido porque deixava todos em pânico, mas era também um grande guarda-redes.

Havia também outra figura muito engraçada, o Christian. Ainda há pouco tempo atrás estive com ele e recordámos esse ano no Farense. Ele tinha vindo do Estrela da Amadora ou do Estoril com muitos problemas físicos e então eram mais as vezes que estava a recuperar de lesão do que a jogar, mesmo assim, nunca perdia a alegria e a motivação. Volta e meia dizia-nos -:”No ano que vem, vocês só me vão ver pela Eurosport!”, aquilo provocava a risada geral, e nós dizíamos-lhe -:” Tu nem jogas no Farense, como é que vais jogar num campeonato transmitido pela Eurosport?”. A verdade é que ele depois vai para o Brasil, deu nas vistas e regressou à Europa para jogar no PSG.

Peter Rufai, “o príncipe que abdicou do trono”, foi um dos melhores guarda-redes africanos de sempre. Em Portugal, jogou no SC Farense entre 94 e 96. Acabou a carreira aos 36 anos, na época 99/00 ao serviço do Gil Vicente. Participou em 2 Mundiais pela Nigéria (94 e 98) e conquistou a Taça das Nações Africanas em 94, na Tunísia.
Após uma passagem discreta por Estoril, Estrela da Amadora e Farense, Christian regressou ao Internacional, onde em 3 épocas marcou cerca de 80 golos, o que lhe valeu a convocatória para a Copa América de 99, no Paraguai, conquistada pela “canarinha”. Meses depois, ajudou o Brasil a chegar à final da Copa das Confederações no México, onde o “escrete” perdeu 4x3 para os anfitriões. Para além de ter jogado em Portugal, representou o PSG e o Bordéus na França e o Galatasaray da Turquia.

O Sr Manuel Barbosa tinha muitas ligações ao Sporting de Braga e sugeriu que eu fosse para lá. O Farense estava realmente com muitas dificuldades financeiras e na época que joguei lá, contei sete meses sem receber.

Apesar de ser algarvio, não conhecia o Mister Cajuda pessoalmente, só sabia que tinha sido jogador e que era treinador. Lembro-me de ter ido ao escritório do Sr Manuel Barbosa na Avenida da Liberdade, em Lisboa e estavam lá com ele, o Presidente do SC Braga e o Leonel que também assinou pelo clube nesse dia. De qualquer forma, eu acho que a minha contratação teve o seu aval.

Manuel Cajuda, iniciou a sua carreira como treinador no SC Farense. Orientou cerca de 20 clubes ao longo da sua carreira de mais de 35 anos. Soma mais de 500 jogos na I Liga e teve várias aventuras no estrangeiro : Egito, EAU, Tailândia e China.

Logo na primeira época, aconteceram coisas fantásticas. Ficámos em quarto e alcançámos o lugar de acesso à Taça UEFA. Foi uma época histórica, ganhámos ao FC Porto no Estádio 1º de Maio o que não acontecia há muitos anos e no último jogo do campeonato fomos jogar contra o Vitória em Guimarães, conseguimos empatar, o que nos permitiu ficar à frente deles na classificação e com isso chegar à Europa. Esse jogo foi maravilhoso, tivemos uma receção apoteótica em Braga, com milhares de pessoas a festejarem essa grande conquista, ainda por cima frente ao maior rival. Eu não joguei essa partida, porque tinha sido operado a uma hérnia inguinal e falhei os últimos jogos desse campeonato. Mas de qualquer maneira, é inesquecível esse momento.

Nessa mesma época, marquei um golo ao Benfica em pleno Estádio da Luz. Eu não comecei o jogo a titular, só que um  colega meu foi expulso e o Mister decidiu lançar-me. Sofremos de penalty e passado um ou dois minutos, eu marquei o golo do empate. O guarda-redes era o Michel Preud`Homme, fiquei muito feliz pelo golo, mas sobretudo por ter ajudado o Braga a somar um ponto num estádio tão difícil.
Na época 96/97 o FC Porto sagrou-se tri campeão, com 85 pontos, mais 13 de avanço para o Sporting. SC Espinho, UD Leiria e Gil Vicente foram despromovidos para a II Liga. O SC Braga ficou em 4º lugar, com 55 pontos, mais 2 que o rival Vitória SC.

O Mister Cajuda fez um grande trabalho mas não continuou connosco. Na altura ficámos todos desapontados, porque gostávamos muito dele e queríamos que tivesse continuado. Para o seu lugar, chegou o Mister Fernando Castro Santos , que já tinha feito alguns bons trabalhos em Espanha, mas não era muito conhecido em Portugal. Acontece que ele começou a demonstrar o seu valor e a pouco e pouco conquistou o grupo. Praticávamos um bom futebol e na Taça UEFA conseguimos eliminar o Vitesse da Holanda, o Dínamo Tbilisi da Geórgia, mas acabámos por sair contra o Shalke 04.

O SC Braga foi afastado da Taça UEFA à 3ª ronda da competição. Após um empate a zero no Estádio 1º de Maio, os bracarenses perderam 2x0 frente aos alemães que eram os detentores do título. Jens Lehman, Thomas Linke, Marc Wilmots, Nemec e Martin Max, eram alguns dos jogadores do conjunto alemão, que viria a ser afastado do torneio, pelo Inter de Ronaldo que se sagrou vencedor da prova.

O Mister Castro Santos fez um trabalho tão bom, em tão pouco tempo, que o Sevilla contratou-o. Foi pena ele ter saído tão cedo, porque demonstrou desde o início um grande conhecimento sobre o futebol português, apesar de ser espanhol. Acho que a transferência dele para o Sevilla, foi a primeira de sempre do Braga em matéria de treinadores e acho que na altura ainda receberam 50.000 contos.

Fernando Castro Santos, treinou o SC Braga por 2 ocasiões. Em 97/98 e em 02/03. O técnico galego, dividiu a sua carreira entre Espanha e Portugal, onde regressou para liderar o Leixões na temporada 09/10.

O Alberto Pazos, que era o adjunto, ficou a orientar a equipa. Quando a direção do Braga nos anunciou a decisão, foi um balde de água fria para o grupo, porque não gostávamos dele. Mostrou ser muito autoritário desde o início e a sua relação com os jogadores nunca foi boa. Chegou a ter comportamentos agressivos e atitudes que roçavam o insulto.

A equipa tinha sido montada pelo Castro Santos e continuámos a ter bons resultados com o Alberto Pazos, mas a liderança dele não era boa. Sempre muito stressado e às vezes até ficava com a ideia de que ele não sabia bem, o que andava a fazer. 

No jogo da meia-final da Taça de Portugal contra o Benfica, em Braga, ele disse-nos na palestra -:” Se o Brian Dean jogar, o Idalécio joga. Se o Brian Deane não jogar, o Idalécio não joga! “. O Brian Deane jogou, eu joguei, fiz uma grande exibição e o Braga eliminou o Benfica.

Após ter eliminado o Sporting CP nos quartos (3x1), o SC Braga bateu o Benfica (2x1) e assegurou a passagem à final da Taça de Portugal, algo que não acontecia desde 1966, quando os minhotos venceram o Vitória FC (1x0), garantindo assim a primeira Taça para o clube. Na outra meia-final, o FC Porto bateu a UD Leiria (2x3).

Na semana que antecedeu a final, estava a treinar normalmente e confiante que ia jogar. Quando sai a convocatória, constávamos todos na lista. Viemos para Lisboa, na manhã seguinte houve treino e então ele informou-nos quem seriam os dezoito convocados para ir a jogo. Os convocados foram treinar e os que ficaram de fora, tiveram folga. Infelizmente não pertenci às suas escolhas e fui passear com os meus colegas para o Shopping e pelas ruas da capital. Acabámos por perder 3-1, foi uma grande desilusão, não pude ajudar a equipa na final e infelizmente, nunca mais tive oportunidade de chegar ao Jamor.

Na 58ª final da Taça de Portugal, o FC Porto treinado por António Oliveira, juntou o título de campeão nacional à conquista da Taça. Aloísio, Jardel e Artur, foram os autores dos 3 golos dos dragões. Sílvio, apontou o golo do SC Braga.

Em 98/99 veio o Mister Vitor Oliveira, que já tinha algumas subidas de divisão no seu currículo. Sabíamos que percebia muito de futebol e assim que ele começou a treinar o Braga, percebemos logo, de que se tratava de um grande Homem. Com ele, jogava quem estava melhor, para ele não existiam “nomes”. Ainda por cima naquela altura, o Braga tinha alguns “intocáveis” e o Mister Vitor Oliveira simplesmente ignorou isso. A verdade é que os resultados positivos eram escassos, fomos eliminados da Taça das Taças e começou a haver um grande descontentamento da parte dos adeptos, que estavam mal habituados por todo o sucesso recente que a equipa tinha alcançado

Os resultados acabaram por ditar a saída do Mister, mas apesar de tudo, ele demonstrou uma grande postura. Recordo-me de uma vez em Guimarães termos sido goleados e dos adeptos terem apedrejado o nosso autocarro. Na altura já se falava que o treinador ia embora e no primeiro treino após esse jogo, o Mister reuniu-se connosco e disse que quem tinha jogado contra o Vitória, seria novamente titular no jogo seguinte. Mostrou ter uma grande personalidade, deu confiança aos jogadores. O que ele fez era raro na altura e mesmo nos dia de hoje, os treinadores optam sempre por entregar as culpas aos jogadores, quando acontecem resultados desses. Nós ganhámos o jogo seguinte, mas ele acabou por sair umas semanas depois. 

Quando ele saiu, houve uma grande mágoa no grupo, porque sentimos que a culpa era de todos e não do treinador. O Mister Vitor Oliveira sempre demonstrou um grande caráter e nessa altura disse à direção que não queria ser o problema e saiu pelo seu próprio pé.

Vítor Oliveira, “O Rei das Subidas”, somou ao longo da sua carreira de treinador, 11 subidas da II para a I Liga, 6 das quais como campeão ( Paços de Ferreira 2x, União de Leiria, Leixões, Moreirense e Portimonense). Foi um dos melhores treinadores portugueses de sempre. O seu falecimento a 28 de novembro de 2020, deixou um grande vazio entre os adeptos, jogadores e treinadores do futebol português. Como forma de homenagear Vítor Oliveira, a LPFP, decidiu nomear as distinções para Treinador do Mês e Treinador do Ano, com o nome do treinador.

Tivemos três treinadores nesse ano. Foi um ano terrível. O Mister Carlos Manuel era conhecido por gostar de meter as equipas a jogarem bom futebol e ele tentou isso connosco. Os seus métodos de trabalho, a sua liderança, o comportamento com os jogadores foram dos melhores que tive, mas a verdade é que o nosso grupo não era unido e os resultados também não ajudaram. Infelizmente ele acabou por sair e regressou o Mister Cajuda.

Já não havia muito a fazer nessa época, acabámos por ficar entre os dez primeiros. Na época seguinte, nós voltámos a começar mal e depois as coisas lá estabilizaram. Lembro-me de termos tido uma série de maus resultados, e do Mister ter tirado o Tiago da equipa. Quis protegê-lo, ele era muito jovem e nestas coisas do futebol, geralmente associam-se os maus resultados a um ou a dois jogadores. Ele foi jogar para a equipa B e no decorrer da época voltou.

Quando ele chega à equipa principal, era um miúdo. Sempre com muita humildade, tímido, com muita vontade de aprender e já se notava nele muita qualidade. Sempre de cabeça levantada, e não foi à toa que teve uma carreira brilhante. O Braga daquela altura, era muito diferente do Braga de hoje. As condições de trabalho, a estrutura do clube…mas não tenho dúvidas nenhumas, que esses anos foram essenciais para o Braga atual.

Tiago Mendes, estreou-se na I Liga somente com 18 anos, num Alverca vs Sp. Braga, onde os ribatejanos venceram 3x2. O arranque dos “guerreiros do Minho” em 99/00 foi extremamente negativo : nas primeiras 11 jornadas, a equipa somou 8 derrotas, venceu somente 2 partidas e empatou no seu reduto frente ao Belenenses. Os arsenalistas ficaram em 9º lugar a doze pontos da Europa. Sporting CP quebrou o jejum de 18 anos sem ganhar o título. Rio Ave, Vitória FC e Santa Clara desceram para a II Liga.

Em 2000/2001 o Mister Manuel Cajuda continuou e nós voltamos a fazer uma grande temporada. Nessa época eu joguei menos vezes, o Braga reforçou-se bem e nós ficamos em quarto lugar. Na época seguinte tive mais tempo de utilização, eliminámos o FC Porto nas Antas, para a Taça de Portugal, mas depois acabámos por perder na meia-final contra o Leixões, que era treinado pelo Carlos Carvalhal.

A equipa do Leixões era de I Liga, atenção. Para além de serem bem orientados, tinham um orçamento muito grande, jogadores de grande valor. Mas é claro, ganhámos ao Porto, eu fiz o 1-2 final, foi uma alegria enorme e a expectativa para estarmos no Jamor novamente, era muito grande.

A temporada 01/02 foi histórica para o Leixões. Os “heróis do mar”, voltaram a disputar uma final de Taça de Portugal, 39 anos depois, de terem conquistado a Prova Raínha em pleno Estádio das Antas, contra o FC Porto (0x2). A equipa de Carlos Carvalhal, disputava a II B Zona Norte e apesar de ter sido a equipa mais concretizadora e a menos batida, acabou por ficar em 2º lugar com os mesmos pontos do FC Marco , uma vez que no confronto direto, os “Bébés” perderam em casa (0x2) e empataram a 2 em Marco de Canavezes. Na final do Jamor, o Sporting conquistou a “dobradinha”, ao vencer o jogo por 1x0, golo apontado por Mário Jardel.
Na época seguinte, o Leixões participou no playoff de acesso à Taça UEFA, batendo na 1ª mão os gregos do PAOK por 2x1. Apesar da vitória caseira, o PAOK eliminou a equipa de Carvalhal (4x1) em Salónica. No campeonato, o Leixões foi impiedoso com os rivais, conquistou o título da Zona Norte com 94 pontos em 114 possíveis.

O Mister Manuel Cajuda saiu para a União de Leiria, o Sr João Oliveira Gomes, deixou de ser Presidente do Braga e eu estava em fim de contrato. Acontece é que havia uma cláusula no meu contrato que eu desconhecia, que permitia ao clube renovar automaticamente o meu vínculo, auferindo os mesmos valores.

Nos meus primeiros três anos em Braga, eu estou lá enquanto jogador do Sr Manuel Barbosa. Eu sempre confiei muito nele, não tinha advogados e deparei-me com uma situação chata, pois queria renovar, mas não pelos valores que auferia.

O Braga estava a passar por um processo de renovação na sua estrutura. Para se ter uma ideia, eu ia tratar do meu contrato com o contabilista do clube. Procurei alguns advogados, para saber se tinha direito ou não a desvincular-me, uns diziam que essa cláusula não tinha validade, outros diziam que sim. Eu também nunca estive interessado em avançar com um processo litigioso, andar em tribunais etc… entretanto apareceu uma proposta do Nacional da Madeira, que tinham subido com o Mister Peseiro à I Liga e precisavam de um defesa central. Eu falei com os dirigentes do Braga, disse lhes que o Nacional não queria pagar para me levar e sugeri abdicar de dois salários que tinha em atraso e que saía a bem. Eles não aceitaram, queriam mais 5.000 contos, para além desse perdão de divida. Fiquei muito chateado, porque representei o Braga sempre com muita dignidade e profissionalismo. Não merecia aquilo e ainda antes de aparecer o Nacional, eu reuni-me com o Presidente da União de Leiria para ir jogar para lá, a pedido do Mister Cajuda, mas os responsáveis do Braga foram sempre inflexíveis.

Após 20 anos ligado ao clube, João Oliveira Gomes abandonou a presidência do SC Braga em 2002. Durante vários meses o clube viveu uma grande instabilidade diretiva, até que em fevereiro de 2003, António Salvador assumiu os destinos do clube, onde até hoje é presidente.

Nesse impasse, apareceu um grupo de empresários irlandeses. Vieram com a possibilidade de eu representar alguns clubes no Reino Unido, mas não passou de uma possibilidade.

Falaram-me do Celtic, do Bolton, do Coventry… mas acabou por não dar em nada.

Acabei por ingressar no Nacional. O Presidente Rui Alves propôs-me um contrato de três anos e disse-me que teria de ser eu a pagar esses 5000 contos ao Braga. Eu não tive alternativa e aceitei.

O Nacional tinha vindo da II Liga e o clube também passava por uma situação financeira delicada. Fizemos uma temporada brilhante e só não chegámos aos lugares europeus, por causa dessa instabilidade. Assim que cheguei, fui nomeado pelos meus colegas para ser sub- capitão, o que revelou logo de início, o respeito que tinham por mim. O capitão era o Ivo Vieira que sempre foi um grande companheiro. Na altura, já se notava nele, capacidades para se tornar treinador. Estava sempre disposto a ajudar, corrigia posicionamentos, era um líder e percebia muito de futebol. É sem surpresa que o vejo a ter sucesso como treinador e tenho muito orgulho em ter sido seu colega de equipa.

Ivo Vieira, terminou a sua carreira como futebolista aos 28 anos e tornou-se na época seguinte, auxiliar do treinador Casemiro Mior nos nacionalistas. Como treinador esteve ligado ao Nacional por 8 temporadas, exercendo funções nas camadas jovens, até à equipa principal. Em Portugal orientou ainda o Marítimo, o CD Aves, Académica, Estoril, Moreirense e Vitória SC. Atualmente é treinador do Al-Wheda da Arábia Sáudita.

Só fiquei uma temporada no Nacional, porque o meu pai estava doente e eu queria estar perto dele. Sempre que vínhamos jogar ao continente, eu ia visita-lo ao Montijo e só regressava à Madeira no dia seguinte. Dado a essas circunstâncias, eu pedi para sair no final da época.

Precisava de voltar para o Continente. Procurei o Belenenses e o Rio Ave. Falei diretamente com o Mister Carlos Brito, que me disse que gostava muito de mim e como tinham perdido o Peu, eu seria uma grande aquisição. Eu expliquei-lhe a minha situação no Nacional, que tinha mais dois anos de contrato e ele falou com a direção do Rio Ave, para que eles negociassem com o Nacional. Eu também fui falar com o Presidente, tinha alguns salários em atraso e ele aceitou libertar-me sem contra partidas. Foi pena ter jogado só um ano no Nacional, mas a minha saída era inevitável.

Idalécio, jogou 30 partidas na época 02/03 e foi o quarto jogador mais utilizado por José Peseiro.

O Mister Carlos Brito foi impecável comigo. Eles tinham subido à I Liga e a equipa estava montada. Não começo por ser titular, os centrais eram o Franco e o Bruno Mendes e eu demorei a ganhar o meu espaço na equipa. Depois quando tive a oportunidade de jogar, não saí mais. Essa época foi extraordinária, arrisco em dizer que foi o melhor grupo que encontrei num balneário em toda a minha carreira. Muita união, grande espírito. Os próprios dirigentes, sempre preocupados connosco, o Rio Ave à semelhança de outros clubes também tinha dificuldades financeiras, mas eles sempre fizeram grandes esforços para que não nos faltasse nada.

Fiz duas épocas em grande plano com o Carlos Brito, porém, as coisas não nos correram bem no meu terceiro ano. O Mister Carlos Brito sai para o Boavista, que estava na UEFA, e tinha saído o Éder. Eles precisavam de um central e o Mister perguntou-me se eu queria ir. Como é óbvio, eu respondi-lhe que sim, também já tinha trinta e dois anos e gostava de trabalhar com ele. A direção do Rio Ave  entretanto muda e quem chegou não me deixou sair, porque diziam que era fundamental na equipa. Eu aceitei naturalmente, tinha contrato e esqueci a ideia de jogar no Boavista. A época começou, eu sempre a titular, até que deixo de jogar. A equipa jogava mal, o grupo já não tinha aquela união dos anos anteriores, os resultados eram maus e o Mister António Sousa sai. Chegou o João Eusébio, que era treinador na formação do Rio Ave e as apostas continuaram a ser as mesmas. Acabámos por descer e no final da época disseram-me que não contavam comigo para a época seguinte. Entristeceu-me, porque não me deixaram ir para o Boavista. Eu já tinha trinta e dois anos e na minha época, jogadores dessa idade já eram vistos como veteranos.
Em três épocas no Rio Ave, Idalécio jogou cerca de 90 jogos. Um 7º, um 8º e um 16º lugar foram as classificações obtidas pelos vila condenses na sua passagem.

Voltou a haver a possibilidade de rumar ao estrangeiro, falou-se do Chipre, mas nunca chegou nada em concreto. Acabei por ir para o Trofense, que estava a disputar a subida à II Liga. Falei com o Costa que jogava no Trofense e caso eles subissem, o Mister Daniel Ramos contava comigo. Eles subiram e eu assino por três épocas.

A II Liga sempre foi muito competitiva e nós nessa altura tínhamos boa equipa, o Mister Daniel Ramos já mostrava grande potencial e praticávamos um bom futebol. A equipa vinha da II B, mas a época correu muito bem.

A Liga Vitalis 06/07 teve o Leixões como campeão. O Vitória SC ficou em 2º e subiu para a I Liga. Olivais e Moscavide e GD Chaves desceram para a terceira categoria do futebol nacional. O Trofense assegurou o 11º lugar e Idalécio, foi o terceiro jogador mais utilizado por Daniel Ramos.

Na época seguinte o Daniel Ramos sai do Trofense e vem o António Conceição que já o conhecia dos tempos em Braga. A direção decidiu mandar o Mister Daniel Ramos embora, veio o Toni, e eu fiquei descansado porque ele tinha trabalhado comigo uns anos antes. Acontece que o Trofense faz um grande investimento, muita aquisição e eu perco espaço no plantel, apesar de ser o capitão da equipa. 

Nessa época tive a oportunidade de conhecer o Fábio Paím. Era realmente muito bom jogador, muito bom miúdo, mas pouco equilibrado. Notava-se que não tinha uma grande estrutura familiar, assim como o seu espírito de sacrifício era nulo. Eu falava muito com ele, aconselhava-o… um minuto depois, já estava a fazer exatamente o contrário do que lhe tinha dito.

A dada altura, eu comecei a sentir que estava a ser afastado do clube, que já não me queriam e um diretor até sugeriu que eu fosse emprestado. Não aceitei. Tinha assinado por três anos, gostava de jogar no Trofense e não queria sair. Entretanto a equipa sofreu algumas lesões, alguns castigos e eu ganho o meu espaço. Chegámos ao primeiro lugar, eu tinha feito um golo num jogo importantíssimo e senti que era fundamental naquela equipa. 

A verdade é que depois fomos jogar contra o Olhanense, que era treinado pelo Jorge Costa e o Toni avisa-me poucos minutos antes da partida , que eu ia sair da equipa. Aquilo foi como um balde de água fria e a partir daquele momento, a situação complicou-se. Eu ia treinar normalmente, continuava a ser profissional, mas a minha motivação já não era a mesma. É verdade que temos de aceitar as decisões do treinador, mas naquela situação, achei que tinha sido injusto comigo.

Falei com os responsáveis do Trofense, disse-lhes que não aguentava mais aquela situação, mas que queria manter o meu contrato até ao fim, pois tinha a certeza que íamos subir. Os salários dobravam, caso fossemos para a II Liga, assim como receberíamos o prémio de subida. Estava seguro de que o Trofense chegaria ao objetivo, não pela qualidade do treinador, mas sim pelo valor do plantel

O Trofense foi o grande vencedor da Liga Vitalis 07/08 com 52 pontos, mais 1 que o Rio Ave que foi 2º. Penafiel e Fátima foram despromovidos para a III Divisão Nacional.

O treinador-adjunto do Gondomar, tinha um estabelecimento lá na Trofa, sabia do que se estava a passar e convidou-me para ir para o Gondomar, uma vez que estavam a atravessar um mau momento e um jogador como eu seria muito útil para ajudar a equipa a garantir a manutenção e eu aceitei o convite. Lá encontrei uma equipa com muita qualidade, jogadores muito experientes, como o Fernando Aguiar, Vitor Fróis, Marco Cadete… conseguimos a manutenção e foi uma excelente experiência. O treinador era o Mister Nicolau Vaqueiro, que eu não conhecia, mas que me deu todo o suporte e no final provei que ainda podia ser útil. Tanto que depois, o Mister Nicolau Vaqueiro foi para o Moreirense e quis-me levar com ele. Só que como eu ainda tinha contrato com o Trofense, acabei por não ir. O treinador do Trofense continuou a ser o Toni, que deu indicações à direção que não contava comigo. Eu fui tendo reuniões com os dirigentes do clube, quiseram-me dar uma indemnização ridícula para rescindir contrato, eu não aceitei e disse-lhes que só saía se me pagassem o dinheiro todo e que podiam dizer ao treinador, que eu estava disposto a treinar à parte, uma vez que ele também não tinha tido coragem para me dizer na cara que não contava comigo.

Na sua época de estreia no principal escalão do futebol português, o Trofense ficou em último lugar da tabela. António Conceição, foi demitido do cargo logo no arranque do campeonato, após 3 derrotas consecutivas. Tulipa foi para o seu lugar, mas não evitou que o clube regressasse à II Liga.

Acabei por chegar a acordo com o clube, até porque toda aquela situação desgastou-me muito. Decidi sair do norte do país, rescindi com o Trofense e arranquei com a minha família de volta para o Algarve.

Regressei ao Louletano, a casa onde tudo tinha começado. Conhecia as pessoas, valorizei o facto de ter sido formado lá e assinei por um ano. Nós acabámos por subir para a II Divisão B, mas antes da época acabar, a comunicação entre a direção e os jogadores começou a correr mal. O clube não tinha condições financeiras e eu que era o capitão da equipa consegui unir o grupo de forma a que não perdêssemos o foco competitivo. 

Acabada a época, fui informado por um diretor que o clube não queria renovar comigo. Ainda tentei negociar com eles, tinha mudado a minha vida toda para o Algarve e o dinheiro não seria o fator mais importante para mim. Mesmo assim, eles não quiseram a minha continuidade.

Entretanto apareceu o Farense com uma proposta. Ligaram-me e disseram-me assim :” Idalécio, queres vir para o Farense? Queres vir, vens. Não queres vir, não vens. O que não faltam são jogadores que querem jogar no Farense!”. Eu ouvi a proposta deles e aceitei. Eu que já tinha começado a trabalhar numa imobiliária, chegava muita vez atrasado aos treinos, os responsáveis do clube ficavam chateados, mas eu sempre me dediquei bastante ao Farense. No final, o esforço valeu a pena, conseguimos subir da III para a II B no ano do centenário do clube. 

Esse ano foi muito difícil, era complicado lidar com o Presidente, tivemos três treinadores… primeiro mandou embora o Edinho, depois foi buscar o Rui Esteves, acabou por despedi-lo também. Eu aí confrontei a direção, porque não entendia a decisão de mandar o Rui embora, uma vez que ele estava a desempenhar um belíssimo trabalho. Mas como eu tinha muita vontade de ajudar o Farense a subir, acabei por aguentar. Fiquei feliz pelo clube, pelo nosso grupo, pelos nossos adeptos, mas não continuei na época seguinte e fui para o Quarteirense.

O Quarteirense estava na Distrital, mas o clube investiu para subirmos para a II B, em dois anos. O primeiro ano subimos para a III Divisão, sou convidado para continuar e ajudar a equipa a subir novamente. Acontece é que depois voltaram atrás e pediram-me para continuar, mas como Coordenador da formação.

Aceitei, até porque já não ia para novo e a possibilidade de continuar ligado ao futebol agradou-me, no entanto, a experiência como coordenador foi horrível. Lidar com as dificuldades dos treinadores que se sacrificam imenso durante a semana para dar treinos, que abdicam dos fins de semana com a família para irem a torneios, sem grandes incentivos dos clubes… ver pais a quererem bater nos árbitros, nos treinadores, não era para mim. Foi então que decidi sair do país e ir para Londres.

Sempre fui muito profissional e dedicado na minha carreira. Sempre respeitei as funções dos outros, mas fiquei desiludido com algumas pessoas. Nos anos em que joguei fui quase sempre capitão e tive de defender os meus colegas, dar a cara pelo grupo, uni-lo em alturas difíceis, onde muitos dirigentes pura e simplesmente ignoravam essas dificuldades. Depois, quando os procurava para saber novidades acerca dos pagamentos dos ordenados, ainda me tratavam mal e diziam que eu só pensava no dinheiro. Deviam-nos e ainda tinham coragem para me fazerem sentir o culpado. Passei grandes momentos, fiz muitos e bons amigos e sinto-me orgulhoso do meu percurso. Tenho quatro subidas de divisão consecutivas, recebi da Associação de Futebol do Algarve o Prémio Carreira e tenho mais é de estar grato a tudo o que o futebol me deu.

Faço alguns contactos com a empresa Kool 4 you, do meu amigo Pedro Silva, que é um jovem muito correto e com uma postura muito positiva no futebol. Essa empresa está a ganhar muito crédito, em virtude desses mesmos valores do Pedro, e destina-se a identificar e a promover jogadores de futebol. Eu estou sempre disponível para ajudá-lo, faço-o simplesmente porque me identifico com a sua maneira de estar, e porque também tenho gosto que os jogadores sigam as melhores escolhas para as suas carreiras.