Lourenço Sporting Entrevista Jogo Direto Cristiano Ronaldo

Eu nasci em Angola e com 8 anos venho para Portugal.
Cheguei em setembro de 91 e passado um mês, já estava no Sporting.
Um tio meu também jogava na formação, disse-me que iam fazer treinos de captação, eu fui tentar a minha sorte e fui selecionado.

Fiz a minha formação toda no Sporting, até chegar à equipa principal. Ainda antes de chegar a um clube, eu já era apaixonado por futebol e mesmo quando vivia em Angola, já gostava de ficar na rua o dia todo a jogar com os meus amigos. Quando vim para Portugal, fui viver para perto da Avenida dos Estados Unidos da América e mais tarde, fui viver para Chelas. Tive uma infância muito feliz, adorava estar a jogar à bola na rua até tarde com o resto dos miúdos, que às vezes os meus familiares até tinham de me arrastar para casa. Podia ficar o dia todo sem comer, sem tomar banho, desde que houvesse uma bola de futebol, eu era feliz. Atualmente isso é algo impensável, já não deixamos os nossos filhos ficarem na rua sem a nossa vigilância, é muito raro ver crianças a brincarem umas com as outras, e o próprio futebol ficou a perder, porque é na rua que se começa a desenvolver técnicas e capacidades, que mais tarde são aproveitadas pelos treinadores na formação. O chamado futebol de rua é fundamental, e é com pena que vejo que desapareceu.
No meu percurso na formação, eu fui praticamente sempre capitão nas equipas que representei. Sempre me destaquei pela técnica, pela velocidade, pela força, e em 97, estreei-me ao serviço da seleção, num jogo contra San Marino, a contar para o apuramento do europeu de sub-16, na Escócia. Eu ainda era iniciado, joguei dois escalões acima do meu e apontei 3 golos nesse jogo. Foi muito especial, é impossível esquecer-me. A partir daí, passei a ser representado por um empresário, assinei contrato com o Sporting, e fui sempre convocado para as seleções até aos sub-21.
Portugal chegou às meias-finais do Euro sub 16, perdendo para a República da Irlanda (2x0), que seria a vencedora da competição. No jogo de atribuição do 3º lugar, Portugal perdeu para a vizinha Espanha (2x1). Para além de Lourenço, a seleção tinha jogadores como José Moreira, Ricardo Costa, Jorge Ribeiro, Cândido Costa e Manuel José. A equipa das quinas era comandada por António Violante.
No meu primeiro ano de júnior, fui emprestado no mercado de inverno ao Bristol City. Tinha 17 anos e o meu empresário que era o mesmo do Luís Boa Morte, achou que era bom para mim sair da minha zona de conforto e para a minha evolução, uma experiência na Inglaterra seria importante.
O Bristol City estava na Division Two, e apesar de ser muito jovem, consegui fazer vários jogos, apontei alguns golos e o clube quis adquirir o meu passe, só que o Sporting não aceitou. Foi uma experiência muito boa, eu jogava durante a semana pelas reservas, e ao fim de semana pela equipa principal. Foi espetacular, porque estava sempre focado no futebol, sempre comprometido com os jogos e não havia espaço para me importar com outras coisas, só mesmo em jogar à bola. Como tinha inglês na escola, não tive muitas dificuldades com a comunicação, falava o básico e até acabei por desenvolver mais um bocadinho o idioma. 
Na verdade, uns tempos antes de ir para o Bristol, eu tive tudo acertado com o Southampton. O meu empresário tinha muitas ligações ao clube e como eles eram muito fortes na formação, teria sido uma excelente decisão. Infelizmente eu quando fui fazer os exames médicos, ainda estava a recuperar de uma lesão muito grave nas articulações, chumbei e acabei por não sair nessa altura do Sporting.
Nessa época, eu próprio não estava preparado para ir, gostava muito de estar com a minha família, com os meus amigos, e queria muito chegar à equipa principal do Sporting, estava totalmente focado nesse objetivo. O Southampton tinha um contrato muito bom para mim, excelentes condições, até ofereciam um emprego à minha mãe para ela ir viver para lá comigo. Não fiquei, mas depois até acabei por assinar contrato profissional com o Sporting. Perdi uma coisa, mas ganhei outra.
O Southampton tem uma das melhores academias do mundo. Desde Alan Shearer, passando por Theo Walcott, Wayne Bridge, Matt Le Tissier, Adam Lallana, Oxlade-Chamberlain, Gareth Bale e Luke Shaw, todos eles passaram pela formação do clube, até à equipa principal.
No ano em que o Sporting é campeão com o Mister Boloni, eu estava a fazer uma grande época na equipa B. O Marius Niculae lesionou-se em dezembro, o Sporting tinha praticamente só o João Vieira Pinto e o Jardel como avançados, e como eu estava em grande forma na equipa B, já levava 12 ou 13 golos, comecei a ser chamado ao plantel principal. 
Infelizmente, em fevereiro lesionei-me gravemente nos ligamentos e não tive oportunidade para me afirmar na equipa. Estive seis meses a recuperar e sabíamos que precisava de jogar, mas como estava naquele processo de recuperação, não seria bom para mim ficar na equipa principal, pois não obteria os minutos desejáveis.

No ano em que estive em grande plano, ficámos em primeiro lugar, mas foi o Estoril que subiu de divisão porque as equipas B, não podiam subir. Como não me chegou proposta nenhuma de clubes portugueses, em agosto fui para o Oldham. Já me tinha dado bem em Inglaterra, o próprio futebol inglês, enquadrava-se no meu estilo de jogo: muita velocidade, contacto físico, futebol direto, sem paragens, agradava-me imenso, e claro, tinha também a ilusão de abrir horizontes para mim, no mercado inglês.

Não quis regressar à equipa B, decidi voltar a Inglaterra. Não vou dizer que jogar na equipa B era mau para mim, mas do ponto de vista competitivo, sentia que era um retrocesso na minha evolução. Se ainda disputássemos a II Liga, era uma coisa, agora na II B, onde ainda por cima não podíamos subir, não me agradava.

Ao contrário do que tinha acontecido na minha primeira passagem por Inglaterra, joguei pouco e arrependi-me de ter ido para o Oldham. Tive algumas recaídas, vários conflitos com o treinador e como não estava a jogar, deixei de ser convocado para a seleção, o que me preocupou bastante. Falei com o Sporting, disse que não estava feliz e regressei à base. Ainda fiz cerca de 20 jogos na segunda metade da época na equipa B e apontei mais uns 11/12 golos. No final dessa época, fui convocado para disputar o Torneio de Toulon e ganhámos a competição.

Em 2001, Luís Lourenço conquistou o primeiro de dois Torneios de Toulon do seu palmarés. Na final, Portugal bateu a Colômbia por 2x1, com golos de Hélder Postiga e Ricardo Costa. Dois anos depois, Lourenço contribuiu com 3 golos na caminhada da seleção até à final, onde bateu a Itália por 3x1. Bruno Vale, Miguel Garcia, Zé Castro, Raul Meireles, Danny, Hugo Almeida e Cristiano Ronaldo, constavam nessa equipa.

Em 2003/2004, faço a minha terceira pré-época com o Sporting. Senti que era o tudo ou nada, porque já tinha feito duas com o Mister Boloni, mas acabava sempre por ir para a equipa B.

Intercalava treinos e jogos com a B e a principal, só que daquela vez, queria  mesmo muito afirmar-me em definitivo. Tinha feito um grande Torneio de Toulon e o Mister Fernando Santos contava comigo. O Sporting tinha me dado mais dias de férias por ter estado ao serviço da seleção, mas eu nem quis gozá-los. Apresentei-me ao serviço no mesmo dia que os outros, estava mesmo focado no meu objetivo, pois sentia que podia ser a minha última oportunidade.

Felizmente a pré-época correu-me muito bem, fiz golos, assistências e acabei por ser muito importante nesse ano. Já tinha trabalhado com muitos jogadores nos anos anteriores, eles já me conheciam e a minha integração no plantel foi natural.

Quando tinha 18 anos já treinava com o plantel principal e olhava para todos aqueles grandes jogadores, referências como o João Vieira Pinto, Jardel, Pedro Barbosa… craques que estava habituado a ver na televisão e só pensava que ia conseguir jogar em grandes palcos com eles. É engraçado ver a evolução dos tempos, e notar o “à vontade” que os jovens jogadores têm atualmente com os mais velhos, quando comparando com a minha geração, as diferenças são gritantes. No meu tempo, havia lugares marcados nos autocarros, se me sentasse no lugar de algum jogador, tinha de me levantar e hoje isso é impensável. Se for preciso, é o mais velho que tem de procurar lugar no autocarro. Não vou dizer que não me sentia confortável e que os jogadores mais velhos intimidavam-me, mas havia um respeito diferente, não havia abertura para tantas confianças como hoje, em que um júnior vai treinar à equipa principal e fala com o capitão, como se o conhecesse há vários anos

O golo do Geovanni no tempo de compensação em Alvalade, no último jogo da época, foi um duro golpe. O Benfica ultrapassou-nos e foram disputar a 3ª pré-eliminatória da Champions no ano seguinte. Isso contribuiu para a saída do Mister Fernando Santos, o único homem que confiou em mim e que me deu oportunidade de jogar no Sporting.

No final dessa época em que eu fiz coisas boas, soube pelos jornalistas que o novo treinador, José Peseiro, não contava comigo. Eu tinha estado no Euro sub-21 na Alemanha, ajudei Portugal a garantir o acesso aos Jogos Olímpicos e ter recebido essa notícia pelos meios de comunicação, chocou-me.

Ainda hoje estou para saber, se a ideia de me dispensar foi do treinador, do presidente, ou de alguém da direção. O José Peseiro estava no Real Madrid, não sei se ele via os nossos jogos, mas eu tinha estado em bom plano e nunca me passou pela cabeça ser dispensado. Abdiquei das minhas férias para poder preparar-me como deve ser, rejeitei uma proposta do Southampton, que entretanto voltara a contactar-me, optei por renovar com o Sporting e no ano seguinte, decidem emprestar-me? Nunca entendi, mas um dia vou saber. Já passou tanto tempo, já não há volta a dar, por isso, não vejo o problema de me dizerem o porquê de nem sequer ter feito a pré-época no Sporting. Tenho a certeza de que se o Fernando Santos continuasse, eu teria continuado também. Ele gostava de mim e só me disse para eu trabalhar, ficar tranquilo, que o meu momento acabaria por chegar e a verdade é que chegou.

Os próprios sportinguistas têm carinho por mim, volta e meia ainda me dizem que eu deveria ter continuado ao serviço do clube.

Tive de respeitar e fui emprestado ao Belenenses. Na altura, recebi um telefonema do Jaime Pacheco, que estava no Boavista, mas eu quis ficar a viver em Lisboa. Sempre fui muito ligado à minha família, à minha zona de conforto e optei pelo Belenenses. A minha primeira fase em Belém foi muito positiva, joguei bastantes jogos, estava em boa forma, só que depois tive uma lesão nos adutores e nunca mais consegui apresentar-me ao nível dos primeiros meses, ainda por cima quem estava a jogar na minha posição estava a ter bom rendimento e isso dificultou-me ainda mais a vida.

Com Fernando Santos, Lourenço disputou 32 partidas e apontou 5 golos. O Sporting foi afastado da Taça UEFA pelo Gençlerbiligi, ainda na 2ª ronda da competição. Na Liga Portuguesa, os leões ficaram em 3º lugar a 9 pontos do campeão FC Porto. Na Taça de Portugal, o Sporting foi eliminado precocemente da prova, pelo Vitória FC, em pleno Estádio de Alvalade (0x1).

Tive o privilégio de ter pertencido a uma geração fantástica de jogadores. Olho para trás, e sinto que podíamos ter escrito uma página muito bonita no futebol português. Conseguimos um apuramento histórico para o Euro sub-21 em 2004, quando eliminámos a França nos penalties e não tenho dúvidas nenhumas, de que se na fase final na Alemanha, o Cristiano Ronaldo, o Hélder Postiga e o Tiago, tivessem sido libertados pelo Scolari, teríamos vencido a competição. Já assim ficámos em 3º lugar, ganhámos à Alemanha, que tinha vários jogadores que acabaram por representar a seleção principal no Euro 2004, em Portugal.

Lembro-me de que começámos mal esse europeu, que choviam críticas da imprensa e o próprio Gilberto Madaíl picava-nos por não estarmos a corresponder às expectativas. A verdade é que garantimos o acesso aos Jogos Olímpicos, e aí, a desilusão foi ainda maior. Estávamos num grupo extremamente acessível, e se calhar, esse é que foi o problema.

Pensámos que “eram favas contadas”, e não respeitámos os nossos adversários. Iraque, Costa Rica, Marrocos, eram equipas francamente acessíveis, mas o futebol joga-se é dentro do campo, onze contra onze e uma bola.

Na Alemanha tínhamos perdido contra a Suécia, empatado contra a Suiça, e no jogo decisivo, houve quem tivesse feito as malas na véspera, porque o sentimento que pairava, era de que contra a Alemanha não teríamos hipóteses, ainda mais porque para eles passarem bastava um empate. Fomos com tudo no jogo decisivo e acabámos por ganhar.

Acho que isso é algo muito português, quando estamos em boa posição, sentimos que não é preciso muito esforço, só nos focamos verdadeiramente, quando a situação piora e nos Jogos Olímpicos aconteceu isso. O Paraguai foi à final desses Jogos Olímpicos e nós na véspera da competição, jogámos contra eles e ganhámos 5-0. Tínhamos tudo a nosso favor, mas o grupo não estava totalmente unido.

Houve muita “azia” entre vários jogadores que pensavam que iam jogar e que acabaram por ir para o banco. Houve malta que se sacrificou no europeu uns meses antes, e nem sequer foi para Atenas. A própria inclusão na convocatória dos 3 jogadores com mais de 23 anos, não foi bem digerida por alguns elementos. Podíamos ter trazido uma medalha para Portugal, mas não estávamos preparados, achámos que aquilo seria um passeio e saímos sem brilho. Mesmo assim, considero o Euro sub-21 em 2006 a minha maior desilusão, por tudo. Jogávamos em casa, toda agente envolvida e tínhamos uma equipa fantástica. Era uma conjugação de jogadores nascidos  em 83/84 e já com jogadores nascidos em 86. O Quaresma, o Manuel Fernandes, o João Moutinho, o Nélson lateral direito… acho que dessa geração, só não estava mesmo o Cristiano Ronaldo.

Começámos mal, perdemos contra a França, e estávamos obrigados a ganhar à Sérvia, mas perdemos, e só um milagre contra a Alemanha é que nos colocava nas meias-finais. Estávamos obrigados a golear os alemães, ganhámos só 1-0, e foi uma grande desilusão. Foi muito difícil para o nosso treinador, o Agostinho Oliveira, gerir aquele grupo. Havia muito ego, muitas vedetas, todos queriam jogar, e não estávamos totalmente compenetrados.

Após um apuramento emocionante para a fase final do Euro Sub 21, contra a França nos penalties, a seleção Portuguesa garantiu o 3º lugar frente à Suécia (3x2). Cristiano Ronaldo, Tiago e Hélder Postiga que foram convocados para o Euro 2004, falharam o Euro sub 21 na Alemanha.
Meses depois do europeu, e já com Cristiano Ronaldo na equipa, Portugal participou nos Jogos Olímpicos de Atenas, onde em 3 jogos, conquistou somente uma vitória contra Marrocos. 4X2 contra Iraque e Costa Rica, foram derrotas pesadas que significaram o adeus sem brilho da seleção olímpica. Luís Boa Morte, Fernando Meira e Frechaut foram os jogadores com mais de 23 anos a integrarem a convocatória.
No Euro sub 21 em 2006, Portugal apesar das expetativas, não conseguiu passar a fase de grupos. A Holanda sagrou-se campeã europeia e Klaas-Jan Huntelaar foi o melhor marcador do torneio com 4 golos. No total das 3 competições, Luís Lourenço jogou 9 jogos. 3 no Euro sub 21, em 2006. 2 nos Jogos Olímpicos e 4 na Alemanha 2004, onde marcou 1 golo.

Na segunda época do José Peseiro no Sporting, eu fiz 2 ou 3 jogos de preparação, mas disseram-me que não fazia parte dos planos do treinador. Nunca percebi o motivo, estava bem, mas não me quiseram novamente, e fui emprestado à União de Leiria.

Faço uma boa época lá, fui escolhido pelo Mister José Gomes, que saiu a meio do campeonato, e para o seu lugar veio o Jorge Jesus. Fiz bastantes jogos, marquei alguns golos, e o Jorge Jesus no ano seguinte, foi treinar o Belenenses, e quis-me levar para lá.

O Belenenses tinha descido de divisão, mas deu-se o “ Caso Mateus”, e até à última hora, houve indefinição acerca de quem descia. Eu não queria jogar na II Liga, e não aceitei. 

Não fui muito inteligente, porque se o Jorge Jesus ia para o Belenenses, era óbvio que não iam descer. Passado quase vinte anos, lá apuraram que o Mateus tinha razão, e decidiram que o Gil Vicente devia regressar à I Liga, e eu arrependi-me por não ter ido para o Belenenses.

O Gil Vicente foi despromovido administrativamente para II Liga, devido à utilização do internacional angolano Mateus, uma vez que o jogador estava impedido por ter atuado com estatuto de amador, na época anterior ao serviço do Lixa. O Belenenses que descera, apresentou queixa na FPF, que acabou por condenar os gilistas à descida de divisão, assim como a proibição de disputar a Taça de Portugal e de participar nas provas nacionais de juniores e iniciados.

Após duas épocas consecutivas a ser emprestado, senti que não era desejado no Sporting. O José Peseiro já tinha saído, mas nem com o Paulo Bento tive chance de regressar, e disseram-me para eu procurar um clube para seguir a minha carreira.

Eu fui falando com o meu empresário, fomos analisando algumas propostas do estrangeiro, mas não apareceu nada do meu agrado e decidi-me pelo Vitória Futebol Clube. Nessa altura, tinha a esperança de poder ser abordado por algum clube da Premier League, ou até mesmo do Championship, mas nada. Quando eu era mais jovem apareceram aos montes, mas quando realmente precisei, ninguém mostrou interesse. Fui emprestado ao Vitória e fiquei lá até dezembro. Cheguei a acordo com o Sporting para a minha rescisão e fiquei livre para decidir o meu futuro.

Os sadinos foram afastados da Taça UEFA na 1ª ronda da competição. Os holandeses do Heerenveen, ganharam no Estádio de Alvalade por 0x3 na 1ª mão e na 2ª registou-se um empate a zero. O Vitória era comandado por Hélio Sousa, que representou o clube durante toda a sua carreira de jogador. Luís Lourenço jogou 10 jogos pelo Vitória e apontou 1 golo.

Recebi uma proposta do Panionios da Grécia e concluo a época 2006/2007, lá. Quando cheguei, a equipa estava em 10º lugar, mas acabámos o campeonato nos lugares europeus e fomos à Liga Europa. Fiz quinze jogos seguidos sempre a titular, fiz golos, fiz assistências e a nossa equipa fez uma segunda volta extraordinária, perdendo somente contra o Olympiakos. 

No final da época, fui convidado para renovar por mais dois anos. 

Não conhecia praticamente nada do futebol grego, só lá tinha estado nos Jogos Olímpicos e fiquei surpreendido com a qualidade das equipas gregas. Na altura haviam equipas muito poderosas, com muitos jogadores estrangeiros de qualidade, como o caso do Rivaldo e do Djibril Cissé, e a competitividade da liga grega era muito grande. O próprio jogador grego, passou a ser visto de outra maneira, após a vitória da Grécia no Euro 2004. Além disso, os gregos são loucos por futebol, os estádios estavam praticamente sempre lotados, e dava gosto estar dentro do campo, a jogar para aquelas pessoas. Mesmo nos jogos fora, o Panionios levava sempre no mínimo três mil adeptos, isto quando, o governo autorizava as deslocações, porque na Grécia havia sempre muitos confrontos entre adeptos rivais, combinavam encontros antes dos jogos para lutarem uns com os outros, e como tal, nem sempre a equipa visitante, podia levar os seus adeptos. O Panionios em 2008 começou a construir o centro de estágio, e ainda tive a oportunidade de estreá-lo, mas quando eu cheguei, treinávamos no próprio estádio, ou num campo camarário que o clube usava para treinar, mas na maioria das vezes, era no nosso estádio que treinávamos . O Carlos Carneiro também estava no Panionios, e foi importante para a minha adaptação, eu não aprendi a falar grego, no balneário com os meus colegas, falava só em inglês, mas de um modo geral, a adaptação foi rápida.

Apesar de ter chegado a meio da época, Lourenço foi o segundo melhor marcador da equipa, num total de 5 golos em 14 jogos.

Ao fim de estar dois anos e meio ao serviço do Panionios, recebi uma proposta muito aliciante do Kerkyra também da Grécia, mas da II Liga. Tinham o objetivo de subir, investiram forte, e apesar de não termos conseguido ser campeões da segunda divisão, alcançámos o objetivo principal, e subimos.

No Kerkyra fui receber muito mais do que recebia no Panionios, apesar de serem um clube de uma divisão inferior. Estava a correr tudo às mil maravilhas, até que em 2008/2009 bateu a crise e começámos a ter ordenados em atraso. Estivemos vários meses sem receber, sofremos muito, havia violência nas ruas todos os dias, os supermercados tinham as prateleiras vazias, as bombas de gasolina estavam fechadas e foi uma descida ao inferno.
Aguentei-me porque tinha recebido o prémio de assinatura e mais dois ordenados, mas foi muito complicado.  O clube depois declarou falência, e eu nunca mais vi a cor do dinheiro. Tinha a minha esposa e o meu filho bebé a viverem comigo, não aguentámos aquele clima de insegurança, e decidimos abandonar a Grécia.
Falei com um empresário amigo, e tinha em mente regressar ao futebol português para relançar a minha carreira. Tive tudo acertado com o Beira-Mar, mas à última da hora, as coisas não se concretizaram, e eu acabei por ir estagiar no Sindicato de Jogadores, para manter a forma. No último dia do mercado, assinei pelo Moreirense, mas só fiquei até dezembro. Tive alguns conflitos com o treinador Jorge Casquilha, eu já era um jogador maduro, e apesar de ser uma pessoa calma, nunca aceitei levar desaforos de ninguém. Fui falar diretamente com o presidente, expliquei-lhe que as coisas não estavam a correr bem, e saí.
Jorge Casquilha, chegou ao Moreirense na época 09/10 para disputar a II Divisão N3. Os Cónegos subiram à II Liga e obtiveram o 7º lugar. Na época seguinte, o clube fica em 2º lugar, atrás do Estoril que foi o campeão da Liga Orangina e regressou ao principal escalão do futebol português 8 anos depois.
Quando o Oliveira Gonçalves era selecionador de Angola, tive a oportunidade de representar a seleção. Ele desafiou-me para jogar na seleção angolana, mas nessa altura eu ainda estava no Sporting e tinha o sonho de jogar pela seleção A de Portugal. Além disso, tinha sido internacional em todas as seleções jovens, e acho que era legítimo esse sonho.
Houve a possibilidade de ir ao Mundial de 2006 por Angola, mas como Portugal ia disputar o Euro sub-21 em casa, eu estava motivado para ganhá-lo, e só me concentrei nesse objetivo. Depois, perdi o timming para tratar do processo para representar Angola, e nem ganhei o Euro, nem fui ao Mundial.
Depois em 2010/2011, o Lito Vidigal ligou-me, e acabei por representar a seleção angolana. O Lito estava a fazer um trabalho maravilhoso na seleção, mas na FAF toda agente mandava menos o treinador, ele acabou por sair por causa de uns desentendimentos, e eu só joguei uma vez pela seleção.
Luís Oliveira Gonçalves, fez história ao levar a seleção de Angola a conquistar o CAF sub 20, em 2001. Em 2003, assumiu o cargo de selecionador de Angola e comandou os Palancas Negras à histórica participação no Mundial de 2006, na Alemanha. Lito Vidigal chegou para orientar a seleção angolana em 2011 e permaneceu no cargo por ano e meio. Angola participou no CAN 12 sob o seu comando, mas não conseguiu chegar às eleminatórias.
Saí do Moreirense,  fui jogar para o Alzira em Espanha e as coisas lá voltaram a correr mal. Joguei pouco, o clube também era mal gerido, e fiquei com ordenados por receber. Na época seguinte, comecei a receber propostas da Grécia, do Chipre, da Roménia, mas sinceramente, não estava interessado nisso. Já tinha tido uma experiência muito negativa com o Kerkyra, e esses mercados no que ao pagamento de salários diz respeito, é quase tudo a mesma coisa. Prometem, ao início é tudo muito bonito, mas depois ficam sempre a dever.
Com o passar dos anos, fui começando a desmotivar-me com o futebol. As promessas não eram cumpridas, as propostas que recebia eram pouco sedutoras, e fui sentindo que a minha carreira dificilmente voltaria a conhecer dias felizes.
Já estava com 30 anos, e aceitei o convite do Farense que estava na II B. Foi uma boa decisão, voltei a ter o prazer de jogar, ajudei o clube a chegar à II Liga, e foi um orgulho ter jogado no Farense.
Na época seguinte, voltei a emigrar, desta vez para a Roménia, e assinei pelo Corona Brasov, uma equipa que tinha acabado de chegar à I liga romena. Escusado será dizer, que voltei a jogar num clube que me ficou a dever dinheiro. Prometeram, prometeram, mas pagar foi mentira. Isso fez me pensar no futuro, e disse “ basta”, não estava para continuar a jogar, e sempre a viver com a mesma instabilidade.
Quando eu estava na União de Leiria, o Jorge Jesus dizia-nos muitas vezes, para irmos começando a tirar o curso de treinador. Dizia mesmo, que se não tivéssemos nada para fazer, que fossemos pensando nisso. Agora olho para trás, e vejo que devia ter seguido o seu conselho e a esta hora já tinha todos os níveis necessários. Depois da minha última experiência no estrangeiro, decidi tirar o curso, e a verdade é que desde 2015 até 2020 só consegui tirar o nível II.
Quando fui treinado pelo Jorge Jesus, os cursos eram tirados muito mais depressa, em três ou quatro meses. Agora são precisos três anos para tirar um nível, mais um ano de estágio, mais não sei quanto tempo para poder voltar a tirar o nível seguinte. Depois, ainda existe uma situação que me revolta, que passa pelos cursos universitários, isto é, há quem tire um curso de desporto na universidade, e fica logo com o I e II nível de treinador. Eu digo muitas vezes, que se tenho o nível II, também deveria poder dar aulas de educação física, e não posso.

Ainda tenho de ouvir teorias, de que esses cursos contêm matemática, física, química, ciências etc etc… mas a verdade, é que muitos deles nunca deram um pontapé numa bola, e já têm curso de treinador. 

Pode ser que agora com o Rúben Amorim, as pessoas comecem a entender, que nós enquanto andamos a jogar futebol, temos estágios, jogos, treinos, compromissos, e não podemos tirar o curso como os universitários, que a única coisa que fazem é estudar. 

Eu quero ser treinador, e quero tirar os cursos,mas revolta-me, o tempo que é necessário para poder tirá-los. Conheço muita gente que se inscreveu e que chumbou, por ter falta de tempo para ir às aulas. Como é que se pode pedir a um homem que jogou quinze anos futebol profissional, ter o nível IV? É impossível. Por isso mesmo é que decidi ir jogar para o CNS, primeiro para o Pinhalnovense e depois para o Atlético, para poder conciliar o futebol com os cursos. 

Comecei por treinar na formação do Tenente Valdez, futebol de 7, depois passei para o Clube Atlético da Pontinha, e aí já era futebol de 11.

A época passada, recebi um convite do Al- Wehda da Arábia Saudita, para treinar os sub-15. Gostei  muito da experiência, a nossa equipa estava na segunda divisão, mas tínhamos o objetivo de chegar à primeira. Íamos disputar as meias-finais para apurar o campeão, e se não se tem dado esta situação da pandemia, não duvido que conseguíssemos alcançar o objetivo. 
Ainda não tínhamos perdido jogo nenhum,  vínhamos de uma série de dez vitórias consecutivas , e agora não sei o que ficará decidido, se vai haver subidas, se vamos retomar o campeonato, mas independentemente do veredito final, o trabalho que estávamos a desempenhar, estava a ser francamente muito positivo.
Fui um privilegiado por ter tido uma formação tão boa no Sporting. Logicamente que tenho as minhas ideias, mas é impossível dissociar a aprendizagem que recebi dos meus treinadores na formação, das minhas funções atuais. Os treinadores na formação, são mais ou menos como os nossos pais. Quando nascemos, são os nossos pais que nos ensinam a falar, a dar os primeiros passos, e no futebol, é basicamente o mesmo.
Eu tive dois muito importantes, o César Nascimento  e o Rafael Silva. Foram eles que começaram a explorar as minhas qualidades, e a darem-me os ensinamentos necessários para render dentro do campo, o posicionamento, as técnicas do remate, do passe, da receção… é claro que todos foram importantes, mas são esses dois que mais me marcaram. 
Ao longo da minha carreira de treinador, que apesar de curta já me deu alguma bagagem, trago sempre comigo as lições que recebi desses meus treinadores. É sempre gratificante notar a evolução dos miúdos, ver o patamar que estão quando chegam às minhas mãos, e comparar o rendimento deles passado uns meses. Mesmo no Al-Wehda, o diretor desportivo da equipa principal, sentava-se no banco a assistir aos treinos, aos jogos e elogiava frequentemente o meu trabalho, porque gostava daquilo que via. Não é para me gabar, mas a verdade é que não é fácil colocar miúdos que jogam na segunda divisão, na seleção nacional, e na minha equipa foram convocados cinco jogadores, três para os sub-15, dois para os sub-16.
Na Arábia Saudita, encontrei uma realidade diferente ao que estava habituado, e felizmente, não tive um pai que me fosse chatear, um diretor que me viesse pedir para jogador A ou B ter mais minutos, nada. Mesmo os miúdos são super educados, gostam de aprender, e como sabiam que sou amigo do Cristiano, eu aproveitava e dizia-lhes várias vezes que se quisessem ser como ele, tinham de se sacrificar. 
Não é acabar o treino e ir embora, se for necessário ficar mais algum tempo a trabalhar nalgum aspeto, têm de ficar, pois é agora que o trabalho se vai fazer sentir, não será quando já tiverem 25 anos, que vão evoluir.
Estou a ter o meu percurso, é óbvio que um dia quero chegar ao futebol sénior, quero treinar na I Liga, mas estou tranquilo, sei que esse dia vai chegar, e que não vou precisar de passar por cima de ninguém para consegui-lo.
Em setembro de 2020, Luís Lourenço assumiu a equipa do CD Fátima SAD, no entanto, acabou por ficar somente 2 meses, uma vez que os administradores da SAD não conseguiram encontrar soluções para os graves problemas financeiros. A equipa encontrava-se a disputar o Campeonato de Portugal Série F.