
“chegou a acontecer várias vezes, eu estar no túnel antes dos jogos e os árbitros abordarem-me, pedindo-me que não abusasse do jogo violento. Só depois com o tempo, é que foram vendo que eu não era como o Materazzi.”
Com 8 anos vou jogar para as Escolinhas do FC Porto, faço lá todo o meu percurso até aos juvenis. A dada altura, jogava cada vez menos e fui emprestado ao Salgueiros, foi lá que comecei a jogar muito mais. Precisava de me sentir útil e no FC Porto isso não acontecia. Foi uma excelente decisão, mais tarde acabei por beneficiar da escolha, uma vez que me facilitou a entrada no futebol profissional.
No FC Porto joguei com grandes talentos que depois não tiveram grandes oportunidades no futebol sénior. Acabaram por se dedicar a outras carreiras e agora jogam futebol apenas como hobbie.
Além de todos esses talentos desconhecidos, no FC Porto, Materazzi partilhou balneário com Ivanildo, Fábio Espinho, Sérgio Organista...
Quando vou para o Salgueiros, começo a jogar muito mais, a ser capitão. Sempre que jogava contra o FC Porto, os responsáveis vinham ter comigo, para eu regressar. Acontece que eu sempre estive ciente de que não ia jogar muito no FC Porto e também não me interessava estar lá, só para dizer que jogava no FC Porto.”
Comecei a sentir que seria jogador de futebol profissional, quando ainda com idade de juvenil, passei a integrar alguns treinos da equipa principal do Salgueiros, pela mão do Mister Carlos Manuel.
Carlos Manuel assumiu o comando técnico do Salgueiros por duas ocasiões. Entre 1996-1998 e 2001-2002. Em 1996/1997 o Salgueiros ficou a apenas 1 ponto de marcar presença na Taça Uefa.
O Salgueiros sempre me valorizou muito e ter-me mudado do FC Porto para lá, teve uma importância tremenda no desenrolar da minha carreira. Tinha o sonho de poder chegar à equipa principal do FC Porto, mas olhando para trás, sinto que se tivesse continuado, dificilmente teria tido uma evolução tão boa enquanto futebolista. Acho que não teria conseguido chegar de uma forma tão rápida ao futebol profissional, se não tivesse ido para o Salgueiros. Quando faço o meu primeiro ano de sénior, estávamos na II Liga e fizemos um ano fantástico com o Mister Norton de Matos.
Em 2003/2004 O SC Salgueiros ficou em 6º na exigente 2ª Liga Portuguesa. Estoril Praia foi coroado campeão que juntamente com o V. Setúbal e o FC Penafiel subiram ao primeiro escalão.
Quando eu ia treinar com os seniores do Salgueiros, os jogadores tinham o hábito de colocar alcunhas aos miúdos que vinham da formação. Tinha um amigo que era o Morientes e a mim, decidiram-me batizar com o nome de Materazzi. Eu na altura tinha cabelo comprido, e com 17, 18 anos, já era muito alto. Eles lá acharam que tinha semelhanças com o Marco Materazzi, e a alcunha pegou.
Alex, o "Morientes do Salgueiros", terminou a carreira com 24 anos, em 2009/2010, no Salgueiros. Fernando Morientes, o verdadeiro, também terminou a carreira nesse mesmo ano, no Marselha.
De certa forma, acho que isso acabou por me prejudicar, porque chegou a acontecer várias vezes, eu estar no túnel antes dos jogos e os árbitros abordarem-me, pedindo-me que não abusasse do jogo violento. Só depois com o tempo, é que foram vendo que eu não era como o Materazzi, e que apesar de ser um defesa agressivo, era leal e não ultrapassava os limites dessa agressividade.
O verdadeiro Materazzi, Marco Materazzi, ao longo de toda a sua carreira viu 105 cartões amarelos, foi expulso por acumulação 9 vezes e viu cartão vermelho direto por 5 ocasiões. Era conhecido pela sua dureza e feitio complicado dentro de campo.
O defesa que mais me fez sonhar foi Paolo Maldini. O Materazzi nunca foi uma grande inspiração para mim, mas levei isso sempre com desportivismo. A verdade é que fiquei conhecido no futebol com esse nome.
Paolo Maldini jogou até aos 41 anos. Alinhou apenas por 1 clube em toda a sua carreira, o AC Milan. Foram 25 anos ao mais alto nível, participou em mais de 1000 partidas, conquistando dezenas de títulos quer individuais, quer coletivos, entre eles, 5 Ligas dos Campeões.
Após a minha época de estreia no futebol sénior, o Salgueiros teve muitos problemas. Perdeu o Estádio Vidal Pinheiro, desceu de divisão, saíram muitos jogadores e houve uma altura que só jogava com juniores. O clube depois teve de acabar e eu fiquei sem equipa para jogar.
No início do século, o Salgueiros mergulhou numa crise financeira que ditou a queda abrupta nas divisões inferiores, até à extinção do futebol sénior, e a delapidação do património existente, incluíndo o mítico Estádio Vidal Pinheiro.
Tive de encontrar um clube e na altura fui para o Freamunde que estava na II B. Em Freamunde encontrei uma equipa fortíssima, onde não tive espaço para jogar e acabei por sair. Através do empresário Chico Oliveira, surgiu a possibilidade de ir para o Marítimo B, mas lá também não me dei bem, não me adaptei, tinha muitas saudades da minha família, era muito jovem e as coisas correram-me mal, falei com o Presidente do Marítimo e ele deixou-me sair. Estive lá somente cinco ou seis meses.
Regressado ao continente, assino pelo Lourosa que estava na II B e aí as coisas melhoram. No primeiro ano lutámos para não descer, a meio dessa época, chegou o Mister Pedro Martins, houve uma mudança radical no nosso desempenho e nos resultados da equipa. De tal modo, que no ano seguinte, estivemos perto da subida, disputámos a fase final, quando na verdade, o objetivo passava por garantir a manutenção. Aí fiz praticamente os jogos todos e esse foi o fator que mais relevo na minha evolução. Um jogador precisa de jogar, ganhar confiança para atingir bons níveis. Não é só com treinos, mas sim com jogos. Sem jogar, o jogador não erra, não cresce, não evoluí.
Pedro Martins, depois de treinar o Lourosa, liderou o Marítimo, o Rio Ave e o Vitória Sport Clube. Atualmente, é treinador do Olimpiakos da Grécia, e conquistou o título da liga grega, na temporada transata.
Em virtude do meu bom desempenho no Lourosa, surgiu a possibilidade de jogar no Gondomar, o clube da cidade onde nasci. Estive lá dois anos, primeiro com o Mister Fernando Pires e depois no segundo, com o Mister Vitor Paneira. Foram dois anos importantíssimos para mim, impus-me e a partir daí, foi sempre a subir.
O Mister Vitor Paneira foi convidado para treinar o Tondela e levou-me a mim e a outros dois jogadores, que tinham estado com ele em Gondomar. Fiquei muito entusiasmado com a minha ida para Tondela, mais fiquei após ter-me reunido com o Presidente. Teve um discurso ambicioso. O objetivo era claro, subir à II Liga. No ano anterior, estiveram muito perto desse objetivo e o Presidente não poupou esforços, para que nessa época o clube subisse. Felizmente isso aconteceu. Foi um ano tremendo. Renovo por mais dois anos e na II Liga, as coisas correram-nos muito bem, fizemos um excelente campeonato.
Foram 4, os jogadores que Vitor Paneira levou para Tondela. Daniel Materazzi, Pedrosa, Vieirinha e Marcelo Santiago.
Senti que mais tarde ou mais cedo, o Tondela acabaria por chegar à I Liga. Após aquela primeira reunião com o Presidente, eu vi a seriedade daquele projeto e nunca duvidei que o clube chegasse ao patamar onde se encontra atualmente.
Em 2011/2012, os beirões subiram à II Liga, onde permaneceram 3 épocas, até chegarem ao principal escalão do futebol português. Só Tondela, Benfica, Sporting e FC Porto, nunca desceram na I Liga.
No meu segundo ano ao serviço do Tondela, a minha esposa engravidou e teve vários problemas durante a gravidez. Nesse período ela foi sofrendo alguns desmaios e como eu estava longe de casa, ficava sempre muito preocupado. Em função disso, fui pedir ao Presidente para me deixar sair, pois queria estar perto dela. Ao princípio ele mostrou-se intransigente, faltava somente um mês para começar a pré-época, contava muito comigo, já tinha o plantel construído e o Mister Vitor Paneira ia continuar. Nós fomos conversando e tentei sensibilizá-lo para me deixar sair. Não seria bom para ninguém se tivesse continuado, saber que a qualquer momento poderia receber uma chamada a informar-me que a minha esposa estava no hospital e ele lá acedeu.
Foi uma pena não ter continuado, sabia que o Tondela mais tarde ou mais cedo chegaria à I Liga e isso teria sido também um sonho realizado, pois não tive oportunidade de jogar no principal escalão. Sempre disse ao meu pai que ia conseguir, mas infelizmente não se concretizou. Tenho muito carinho pelo Tondela, passei lá dois anos excelentes, respeito muito o Presidente e estou-lhe agradecido, mas perante aquela situação, não tive alternativa.
Nas duas épocas em que representou o Tondela, de 2011 a 2013, Daniel Materazzi participou em 63 jogos oficiais e marcou 3 golos.
Tinha ponderado suspender a minha carreira, para me dedicar a acompanhar a minha esposa durante a gravidez. Saí do Tondela quando faltava pouco tempo para o início da época e fui contactado por alguns clubes, mas eram todos de muito longe, como tal, recusei sempre essas propostas. Entretanto apareceu o Leixões e eu não pensei duas vezes. Assinei com eles.
A época 2013/2014 foi a nível individual, a melhor da minha carreira. Joguei mais de cinquenta jogos, marquei seis golos e ter jogado no Leixões foi espetacular. Identifiquei-me muito com a mística daquele clube, a exigência é muito grande, o Leixões pode estar a disputar a I Liga ou a II B, que existe sempre muita crítica. Acabavam os jogos e haviam dez blogs a comentar o nosso rendimento e é por essas e outras razões, que existe aquele ditado que diz: quem passa pelo Leixões, fica preparado para jogar em qualquer clube no mundo.
Nesse ano fizemos um campeonato tranquilo na II Liga. Na Taça de Portugal só fomos eliminados nos quartos-de-final pelo Estoril do Marco Silva, que tinham uma belíssima equipa. Na Taça da Liga fizemos uma grande campanha, passámos a primeira fase, ganhámos ao Vitória em Guimarães e no Estádio do Mar, jogámos contra o Benfica no Estádio da Luz. Foi uma época inesquecível.
O Estoril de Marco Silva foi a grande surpresa do campeonato nessa época tendo terminado em 4º, com acesso à Liga europa. Marco Silva na época seguinte assumiu o comando do Sporting Clube de Portugal.
Depois de ter jogado no Leixões, começou-se a falar do meu ingresso na I Liga. Fui associado ao Arouca e ao Vitória Futebol Clube, mas nunca chegou a haver uma proposta efetiva. O Leixões quis renovar comigo, mas eu fiquei à espera de propostas mais aliciantes e acabou por aparecer o Santa Clara. Naquela altura, eu não quis esperar mais e como não chegou nada da I Liga, assinei pelo Santa Clara que estava na II. A proposta foi muito boa, deram-me ótimas condições, mudei a minha vida toda, levei a minha esposa e a minha filha para lá. Tivemos de abdicar de algumas coisas, mas acabámos por ganhar outras e gostámos muito de viver nos Açores. Foi uma experiência maravilhosa.
No Santa Clara encontrei uma estrutura altamente profissional, nunca nos deixaram faltar com nada e aquela organização era tremenda, é um clube único nos Açores. Do ponto de vista das condições, era exemplar. Os clubes do continente iam jogar ao Santa Clara e tentavam gerir ao máximo as despesas, enquanto nós chegámos a ficar quinze dias no continente em estágio, porque tínhamos dois jogos seguidos fora. Uma realidade que só tinha encontrado no Tondela.
Foram 21 jogos nos Açores. Materazzi marcou 1 golo. Foi também a época onde foi expulso mais vezes, por duas ocasiões.
Ao longo do meu percurso no futebol, fui sondado várias vezes para emigrar. Ainda estava no Gondomar, quando comecei a receber muitas propostas do estrangeiro. Na verdade, não tenho espírito de emigrante e as próprias propostas que fui recebendo, nunca me seduziram totalmente, ao ponto de arriscar. Estive perto de jogar no Chipre e na Roménia, mas eram mercados que sempre mereceram a minha desconfiança. Ouvia sempre coisas algo negativas e estando em Portugal, a jogar em clubes que me davam boas condições, na altura de meter os pratos na balança, pesou sempre mais para o lado da segurança e da estabilidade.
Só houve uma vez que estive mesmo perto de sair de Portugal. Depois da época que fiz no Leixões, o Mister Rui Nascimento que estava nos Emirados Árabes Unidos, abordou-me para eu assinar pela equipa dele, o Al Sharjah. Estava tudo definido, os anos de contrato, os valores que ia receber, mas depois eu comecei a pensar melhor e a vida social de lá, não me cativou. Eu queria ir, levar a minha família comigo, mas depois o Mister falou-me mais detalhadamente das condições de vida lá e acabei por não ir. Economicamente teria sido benéfico, mas o dinheiro não era tudo.
Estava com 28 anos e depois de uma época nos Açores, não cheguei a acordo para renovar com o Santa Clara. Estava de férias no norte, recebo um telefonema de um dirigente do Olhanense, com vista à minha contratação. O diretor desportivo conhecia-me bem e apresentou-me uma proposta muito boa. Disse-me que seria o capitão dessa equipa. Decidi ir para Olhão e foi um ano muito positivo. Fizemos um grande campeonato, com um orçamento irrisório, um misto de jogadores mais experientes, com outros mais novos, e superámos as expetativas.
Na época 2015/2016, no Olhanense, Materazzi participou em 45 jogos tendo marcado 1 golo.
Lá encontrei um dos melhores treinadores da minha carreira, Cristiano Bacci. Foi impressionante a evolução que eu senti enquanto jogador. Quando a época se iniciou, fiquei algo desconfiado, porque um treinador italiano, não devia conhecer bem os jogadores, nem sequer a II Liga portuguesa, mas ao fim de pouco tempo, constatei que estava enganado. Os pormenores nos treinos, o trabalho específico, a perfeição que procurava nos lances de bola parada, o conhecimento e o estudo acerca dos nossos adversários era muito profundo, individualmente evoluí bastante, nunca pensei que aos 28 anos pudesse crescer tanto. Pormenores que me escapavam, desde o tempo de salto, o posicionamento, a leitura de jogo, tudo isso, eu desenvolvi com ele.
Cristiano Bacci ficou 3 épocas em Olhão. Na memória fica o relato de Ousmane Baldé, que jogou na Olhanense na época 2015/16, «Uma vez tínhamos um jogo muito importante em Braga. Estávamos todos no balneário e durante dez minutos o treinador não dizia nada. De repente, levantou-se, e mostrou-nos as partes íntimas. Apenas disse: "Quero ver isto hoje. Gente que tem o que é preciso." E foi-se embora. Foi um momento excecional».
Tenho a certeza absoluta que se tivesse trabalhado mais cedo com ele, que a minha carreira teria tido outra história. Um dia, se eventualmente desempenhar as funções de treinador, tentarei implementar nas minhas equipas muito das suas ideias.
O meu contrato pela Olhanense era automaticamente renovado por mais um ano, caso eu atingisse determinados objetivos. Acontece que perto do final da época, a Olhanense mudou de dono, um senhor italiano, que ao fim de dois meses ao serviço do clube, abordou-me com o intuito de me dispensar. Nada fazia prever uma situação daquelas, eu era o capitão da equipa, tínhamos feito uma época extraordinária, só que ele informou-me que o paradigma do clube, seria diferente na sua liderança.
Na época 2015/2016 a Olhanense ficou em 7º na 2ª Liga com a 3ª melhor defesa da competição (39 golos sofridos). Apenas Freamunde (36) e Feirense (38) foram melhores.
Eu já estava com quase trinta anos e a ideia na altura, passaria por começar a apostar em jogadores mais jovens, portanto, ele quis-me dispensar. Não entendi, tentei fazer-lhe ver alguns pontos que eram importantes e que a minha saída do clube não seria benéfica desportivamente para o Olhanense, pois qualquer equipa precisa de referências e eu era uma delas. Entretanto o Presidente veio ao Porto, marcámos uma reunião e ele continuou com a intenção de rescindir comigo. Eu disse-lhe que não queria sair do Olhanense e quando a pré-época se iniciasse, eu estaria em Olhão para me apresentar ao trabalho
Na época 2016/2017 a Olhanense contratou 37 jogadores, 35 deles, abaixo dos 28 anos.
Quando eu regresso a Olhão para treinar é que as pessoas se aperceberam da situação e a intenção do Presidente em dispensar-me caiu como uma bomba no clube. A equipa técnica, a restante direção e até os adeptos ficaram incrédulos com a decisão do Presidente. Nesse período, fui contactado pelo Fafe que tinha subido à II Liga e acabei por rescindir com a Olhanense. A proposta do Fafe veio-me dar uma base, e uma capacidade maior para negociar a minha rescisão com a Olhanense. Fiquei muito triste com a minha saída do clube, não merecia. Saí chateado com o Presidente, mas abraçado a todo o staff e a todos os adeptos.”
A minha passagem pelo Fafe, apesar de regular, não foi a mais feliz. Fiz bastantes jogos, mas desportivamente as coisas não nos correram bem. O Presidente foi impecável comigo, mas em Fafe, encontrei uma realidade diferente do que estava habituado. O clube tinha vindo da II B e não tinha os alicerces necessários para competir na II Liga. Representar o Fafe foi um orgulho, mas não senti o carinho e o entusiasmo que vivi noutros clubes. Descemos de divisão e sinceramente acho que não me valorizei no Fafe.
Apesar do Fafe ter feito mais 17 pontos que o seu antigo clube, a Olhanense, o Fafe acabou por ficar em 20º e desceu de divisão. De Fevereiro a Abril não conseguiram qualquer vitória, tendo complicado muito as contas finais.
Nessa época, o meu antigo clube, registou uma série de derrotas consecutivas, que julgo ter sido histórica. As pessoas de Olhão ligavam-me e associavam o início trágico da equipa, à minha dispensa. Na verdade, fiquei muito triste com aquelas 10, 11 jornadas iniciais, onde a Olhanense não somou ponto nenhum. Gostava do clube, do treinador, dos meus antigos colegas e claro, dos adeptos que sempre me acarinharam
A Olhanense ficou na última posição na 2ª Liga com 28 pontos, a 19 da permanência e 83 golos sofridos. De julho a outubro não venceram qualquer jogo para o Campeonato. Foram 11 derrotas e 2 empates.
No final da temporada, recebi uma chamada do vice-presidente do Olhanense, a pedir-me para regressar. Fiquei extremamente surpreendido, uma vez que tinha sido dispensado na época anterior. O Presidente estava muito doente, passava muito tempo em Itália a fazer tratamentos e tinha deixado a cargo dos restantes diretores, os destinos do clube. Fiquei reticente, ainda estava magoado com o que tinha acontecido, mas a partir de um determinado momento, eu passei a receber telefonemas a toda a hora, de pessoas de Olhão, a pedirem-me para regressar. Todo esse carinho fez-me sentir valorizado, e na verdade o clube não tinha tido culpa do que tinha acontecido no passado, somente o Presidente.
Voltei e estava motivado para ajudar a equipa a subir novamente à II Liga, o que infelizmente não aconteceu. Estivemos muito perto desse objetivo, mas não foi um ano fácil. Entretanto o Presidente faleceu, os apoios vindos de Itália acabaram e foi muito complicado. Eu na qualidade de capitão, sempre procurei unir o grupo e manter o plantel focado no objetivo desportivo, mas acho que era unânime entre todos, que uma equipa que lute por subir, precisa de condições para que isso seja possível.
Mesmo com meses de ordenado em atraso, a Olhanense na época 2017/2018 conseguiu um honroso 3º lugar no Campeonato de Portugal Série E. A Série E foi conquistada pelo Farense que garantiu a subida à 2ª Liga na Fase Final.
Após a minha segunda passagem pela Olhanense, decidi regressar ao norte. Sempre senti que ficaram coisas por fazer em Olhão, mas naquela altura, o clube já estava com muitas dificuldades e eu procurava um projeto ambicioso. Foi então que apareceu o Lourosa, um clube que já tinha representado uns anos antes. Recebi boas propostas de clubes da II Liga, mas quando me sentei à mesa com o Presidente do Lourosa, que já não era o mesmo aquando da minha primeira passagem, tive a mesma sensação que tivera quando falei a primeira vez com o Presidente do Tondela. O Lourosa tinha subido para o CNS e queriam em pouco tempo, chegar à I Liga. O facto de poder regressar a casa, estar perto da minha família e participar num projeto aliciante, pesou na minha decisão final
Para a época 2018/2019, o Lourosa contratou 6 atletas da 2ª Liga e 2 da 1ª Liga. Além de Daniel Materazzi, chegaram nomes como Tozé Marreco da Académica, Henrique do Boavista, Diogo Cunha do Famalicão e Hélder Castro da primeira divisão do Chipre.
A pré-época no Lourosa foi formidável. Jogámos contra equipas da I Liga e ganhamos a todas. Sofremos só um ou dois golos e para uma equipa que tinha subido ao CNS, os indicadores eram muito positivos. Estava a jogar bem e faço os dois primeiros jogos do campeonato sempre a titular e a equipa sempre a ganhar. Estava tudo bem encaminhado, até que na 3ª jornada do campeonato, o treinador decide tirar-me da equipa.
Perdemos esse jogo em casa e eu pensei que na jornada seguinte, fosse voltar à equipa titular, o que não aconteceu e nós voltámos a perder. O projeto era de tal ordem ambicioso, que o treinador foi despedido ao fim de duas derrotas seguidas. Quando veio o novo treinador, ele manteve a mesma equipa e eu continuei a não ser opção. O Lourosa só voltou às vitórias na 6ª jornada e após esse jogo, o treinador chamou-me e disse-me que não contava comigo.
Lourosa começou o campeonato com uma vitória e depois um empate. A primeira derrota surge à 3ª jornada, já com Materazzi relegado para o banco. Novo empate e o treinador, Luís Miguel, é despedido. Chega André Ribeiro que na sua estreia perde na 1ª Eliminatória da Taça de Portugal na Madeira contra o União. Nova derrota à 5ª Jornada com o Coimbrões, fora. Desde esta 5ª jornada, no dia 16 de Setembro de 2018 até ao dia 5 de Maio 2019, 9 meses, o Lourosa não voltou a perder. Só na 33ª Jornada voltou a acontecer. Perdeu contra o 1º Classificado, o Espinho. Lourosa garantiu a Fase Final e ficaram pelo caminho nos Quartos-de-Final às mãos do União de Leiria.
Fiquei em choque, nunca me tinha acontecido nada daquilo em tantos anos de futebol e argumentei que fui imprescindível na equipa na pré-época e nos primeiros jogos do campeonato, que coincidiram com o nosso melhor momento. Naturalmente que não considerava que as nossas derrotas estavam associadas à minha ausência, mas tive de me defender com isso. Entretanto pedi para me reunir com o Presidente e com o treinador, mas não valeu de nada. O Presidente disse que o treinador queria fazer uns reajustes no plantel, e eu saí com outros sete colegas. Fiquei irritado e revoltado com a situação, apesar de enaltecer o comportamento do Presidente que tentou minimizar os prejuízos da rescisão. Foi justo na indemnização, mas por outro lado, eu abdiquei de muitas coisas para ingressar no Lourosa e fui dispensado ao fim de poucos meses. Para piorar a situação, não consegui encontrar clube. No CNS dava para inscrever jogadores a meio da época, mas os plantéis estavam todos fechados.
Foi um período muito conturbado na minha carreira e emocionalmente, fiquei bastante afetado. Ninguém me podia aturar, irritava-me facilmente, saía para treinar sozinho e os domingos eram muito dolorosos… via os outros a irem jogar e eu ficava em casa.
Estávamos em novembro e continuava sem clube. Entretanto o Leça ligou-me e fiquei num dilema : ou esperava pelo mercado de inverno, ou aceitava o convite. A primeira volta estava quase a acabar, o Leça estava em penúltimo a doze pontos dos lugares acima da linha de água, mas era um clube perto de casa e aceitei. As pessoas foram formidáveis comigo, mostraram um grande interesse em mim. Houve quem me dissesse para eu aguardar mais uns tempos por propostas melhores, mas estava decidido em regressar o mais rápido possível ao futebol. Já não aguentava esperar mais e em boa hora assinei pelo Leça.
Joguei os jogos todos e a equipa fez uma segunda volta fantástica. Quando cheguei só tínhamos oito pontos e acabámos o campeonato com quarenta e três. Só o Lourosa é que fez mais pontos que nós. Individualmente, a época começo mal, mas felizmente acabou bem. No Leça voltei a ter o prazer de jogar, encontrei um grupo espetacular, vivemos aquele conceito de união/família e foi fantástico
Depois de ter acabado a época no Leça, o Trofense ligou-me. Falámos e o projeto pareceu-me ambicioso e assinei. Acontece que as coisas no desenrolar da época complicaram-se. Tivemos alguns ordenados em atraso, tivemos quatro treinadores, mas pelo meio o clube foi comprado por uma SAD e aí começámos a ter mais estabilidade. A SAD trouxe um treinador que garantiu mais equilíbrio e confiança ao grupo, os salários começaram a ser regularizados e acabámos o campeonato com uma série de resultados muito positivos. Infelizmente apareceu a pandemia e não pudemos dar continuidade ao bom desempenho que estávamos a ter.
Antes da interrupção do Campeonato devido à Pandemia Covid-19, o Trofense ocupava a 12ª posição com 30 pontos. Nos seus últimos 7 jogos tinham conseguido 5 vitórias, 1 empate e apenas 1 derrota.
O ano passado inscrevi-me no curso de treinadores, para tirar o nível I, mas as vagas já estavam preenchidas. Depois em março iam reabrir, mas deu-se esta situação do Covid-19 e ficou cancelado. Assim que voltarmos à normalidade, espero então tirar o nível I. Tenho sido abordado por várias pessoas, com o intuito de trabalhar com elas nas suas equipas, ora como treinador-adjunto, ora como diretor. Tenho tido também algumas conversas sobre a possibilidade de ser agente de jogadores, mas para já, no imediato quero continuar a jogar futebol.
Tenho 35 anos, mas sinto-me em forma. No nosso país olha-se muito para o bilhete de identidade, mas ainda esta época pelo Trofense, voltei a ser um dos jogadores mais utilizados do plantel. Qualquer atleta que se prepare bem, está sempre mais perto da melhor forma, independentemente da sua idade. Não vou continuar na Trofa e vou esperar pelos desenvolvimentos no mundo do futebol para assinar por alguém. Já fui sondado por vários clubes, mas não me quero precipitar.
