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Penna Pena Goleadores Campeonato FC Porto

O futebol é maravilhoso, mas também tem o seu lado negro. Uma vez num jogo pelo Rio Branco, eu tentei fazer um golo de pontapé de bicicleta, mas errei a bola. Houve um jornalista, que disse que eu era míope. Mais tarde descobri, que ele recebia dinheiro de outros jogadores e de empresários para falar mal de mim, isto porque eu cheguei à equipa e em pouco tempo, releguei jogadores mais antigos para o banco.

Eu nasci em Vitória da Conquista, uma das maiores cidades da Baía. Sou de uma família bastante numerosa e comecei a trabalhar muito jovem. Tenho mais cinco irmãos e os mais velhos tinham de trabalhar para ajudar os meus pais.

Na minha infância, eu gostava de acompanhar os meus irmãos no futebol. Todos eles jogavam e levavam-me para assistir aos seus jogos. Eu só ficava a ver, porque era muito medroso, tinha medo de jogar. Curiosamente, eu até comecei por ser guarda-redes. Fazíamos aqueles jogos “Rua vs Rua”, onde fazíamos apostas : quem perdesse, tinha de pagar uns refrigerantes aos vencedores. Volta e meia era necessário mais jogadores de campo e só quando isso acontecia, é que eu saía da baliza. No entanto, fui tomando o gosto por jogar na frente, o pessoal dizia que eu tinha jeito e deixei de ser guarda-redes. Eram tempos difíceis, nós jogávamos de madrugada, mais ou menos até às 7 da manhã, antes de irmos trabalhar.

Comecei a crescer e a gostar cada vez mais de jogar futebol. Ingressei numa equipa de Vila da Conquista, que era um dos bairros mais carenciados da cidade. Não havia estradas, não havia saneamento básico, era só barro, pó e… pessoas muito humildes. 

Felizmente, nós conseguimos através do futebol levantar esse bairro. Hoje está muito mais desenvolvido, mesmo a maioria dos jogadores que saíram de Vitória da Conquista, passaram por essa equipa, então fico muito feliz por constatar que um bairro tão problemático tenha conseguido superar as dificuldades, pela mão do futebol.

Tinha idade de júnior, quando decidi arriscar num treino de captação no Serrano Esport Clube. Na altura eles estavam a disputar o Campeonato Baiano e eram um clube com uma dimensão considerável. 

Fiz a “peneira” com cerca de 5.000 jogadores. Felizmente fui aprovado e participei no campeonato de juniores pelo Serrano. Fomos campeões, destaquei-me e comecei a integrar a equipa profissional.

Nessa época, eu trabalhava numa fábrica de sabão e jogava em torneios de empresas. Marquei imensos golos, comecei a ficar conhecido lá na cidade, o Serrano quis-me segurar e propôs-me um contrato. Nisto, surgiu um empresário que tinha sido jogador profissional, a oferecer-se para tratar do meu futuro. Eu comecei a jogar pela equipa principal do Serrano, mas o clube estava a passar por imensas dificuldades financeiras e começou a atrasar os pagamentos dos salários. Estive sete meses sem receber, até que disse que abdicava do dinheiro, se me libertassem.

Aí começou a minha história de burlas e enganos.

Esse empresário, levou-me para o Rio Branco de São Paulo, apresentou-se como meu agente e vendeu o meu passe ao clube por 10.000 reais. Depois disso, ele desapareceu, ficou com o dinheiro que me pertencia e deixou-me à deriva.

Fiquei a viver debaixo das bancadas do estádio do Rio Branco, sem dinheiro e sem perspectivas nenhumas de carreira. Tinha arriscado, mudei a minha vida para São Paulo, para dar melhores condições à minha família e acabei sem nada. Nessa altura, a minha mãe estava a lutar contra um cancro na mama, vivia numa cave pequena, com mais 6 ou 7 pessoas da minha família, incluindo os meus irmãos.

O Rio Branco é um clube espetacular, revelaram muitos jogadores brasileiros para o futebol mundial. Depois daquela confusão toda com o empresário, eu tornei-me profissional e recebia 1750 reais. 

Pouco tempo depois, apareceu um grupo de empresários chineses ou coreanos (já não me lembro), que gostaram muito de mim e quiseram-me contratar. Na altura chegavam aos 200.000 dólares e eu pensei : “Meu Deus, estou rico !”. Infelizmente, o Rio Branco não chegou a acordo com eles, pediram quase o dobro e eu acabei por ficar.

A minha mãe acabou por perder a batalha contra o cancro e faleceu. Estávamos em 1997 e eu fui muito abaixo psicologicamente. Tinha o sonho de me tornar profissional para ajudar a minha mãe e agora estava sem forças para jogar. Sempre fui um jogador guerreiro, dava tudo em campo, lutava até ao último segundo para ajudar a minha equipa a ganhar e saí sempre dos jogos com a cabeça erguida. Mas depois de perder a minha mãe, não estava mais com cabeça para jogar futebol e desisti.

Voltei para a minha cidade e estive 6 meses sem jogar à bola. Nesse período, o Lula Pereira que tinha trabalhado comigo no Rio Branco, foi me convencendo para regressar. Prometeram-me melhorias no salário e o treinador contava muito comigo para disputar a Série C do Campeonato Brasileiro.
Voltei e fizemos um grande campeonato.No ano seguinte saí  por empréstimo para o Paraguaçuense, para disputar o Campeonato Paulista, foi então que consegui superar as dificuldades e a minha carreira descolou.
Através de um empresário que já me tinha sondado para emigrar para a Ásia, recebi o convite para jogar no Grasshoppers, da Suiça. O clube deu-me umas condições extraordinárias, mas eu não me adaptei a Zurique. É uma cidade espetacular, mas eu não me sentia confortável. Saí da Baía com 40 º C e na Suiça estava um frio desgraçado. Nunca tinha sentido tanto frio. Depois, eu mal sabia falar português, quanto mais o idioma deles. Ia treinar, não falava nem inglês, nem francês, nem italiano e ficava sempre desconfiado, porque o pessoal comunicava uns com os outros e eu não percebia nada do que eles diziam. Tive muitas dificuldades em dormir por causa do fuso-horário e fiquei só 4 meses. Foi pena não me ter adaptado, mas foi a minha primeira experiência internacional e ainda hoje guardo boas recordações de lá.
Uma vez que não cheguei a acordo com o Grasshoppers, regressei ao Rio Branco. O clube é muito especial, não só para mim, mas para toda agente que passa por lá. É um clube familiar, tanto que ainda nos dias de hoje, os funcionários são os mesmos que eram no meu tempo e tratam do dia a dia do clube como não é comum ver. Infelizmente, na minha passagem por lá, o Presidente era um homem que geria mal as finanças do clube.

O Rio Branco ganhou muito dinheiro com jogadores que vendia e o Presidente gastava-o em luxos para ele. Quando regressei da Suiça, ele disse-me -: “Eu tenho uma proposta do Palmeiras para ti. Tu vais, se voltar a acontecer o mesmo que no Grasshoppers, tu vais morrer aqui no Rio Branco, porque nunca mais te vou deixar sair.”

O Palmeiras tinha aquela parceria com a Parmalat e durante as negociações, o Presidente do Rio Branco disse que eu seria vendido em definitivo, por 1 milhão de dólares. Eu teria direito a 60% e o Rio Branco aos restantes 40%. Depois do negócio ter sido fechado, acabei por receber só 10% desse valor, isto porque o Presidente do Rio Branco disse que eu não tinha direito a mais nada. Mais uma vez, tinha saído prejudicado e roubado.

Esta história é até triste : uma vez eu estava a prepara-me para ir para o treino do Palmeiras e o Presidente do Rio Branco estava no parque de estacionamento, dentro do carro e chamou-me. Disse :- “ Muito obrigado. Fizeste-me ganhar muito dinheiro.” . Ele tinha ido buscar a última parcela da minha transferência e quis humilhar-me ainda mais. Durante a noite, quando eu já estava em casa, liguei a televisão e surgiu a notícia que ele tinha sofrido um acidente de viação e que tinha morrido.

Cheguei ao Palmeiras, já no fim do Brasileirão. Fomos disputar a Taça Intercontinental contra o Manchester United, só que o Filipão não me levou. Ele sempre foi muito ético, então optou por convocar só os jogadores que tinham pertencido à equipa durante a caminhada . 

Ele sempre gostou de mim, naquela altura no futebol brasileiro, ainda não havia avançados que acompanhavam as transições defensivas da equipa. Eu fui dos primeiros, a fazê-lo. Dava a vida em campo, era muito comprometido com o coletivo e o Filipão sempre gostou de jogadores assim.

Eu sempre digo, que para um jogador entrar na história de um clube, tem de ganhar títulos importantes. A minha passagem pelo Palmeiras foi boa, mas podia ter sido ainda mais gloriosa. Ganhámos a Copa Campeão dos Campeões, ganhámos o Rio-São Paulo, contra o Vasco da Gama e eu fiz um golo ao Helton, que mais tarde jogou no FC Porto. Estivemos perto de chegar à final do Campeonato Paulista, só que na última jogada do encontro, não batemos a bola para a frente, saímos a jogar, perdemos a bola e o avançado do Santos aproveitou, fez golo e nós ficámos pelo caminho. Eliminámos o Corinthians nas meias finais da Libertadores e se o critério de desempate fosse como passou a ser mais tarde, teríamos conquistado a competição. Empatámos 2×2 no Bombonera contra o Boca, num jogo onde também fiz golo, mas em casa empatámos 0x0 e infelizmente perdemos nos penalties. 

Tínhamos uma grande equipa: Marcos, Argel, Roque Júnior, Júnior que foi campeão do mundo em 2002, Asprilla… o Alex Souza, que foi um dos melhores médios com quem joguei, era muito fácil jogar com ele, sabia sempre colocar a bola no momento certo, era demais.

Houve uma altura no Palmeiras, que as coisas não estavam a correr bem, nem à equipa, nem a mim. Uma vez, após um jogo contra o Internacional, eu troquei de camisola com um adversário, só que deixei-a cair e como estava exausto, nem me consegui abaixar para a apanhar. Acusaram-me de a ter atirado para o chão, o que é mentira. 

O Palmeiras tem muitos adeptos, muitas vezes eles iam para os treinos, ameaçavam-nos e cobravam-nos coisas, que nós nem sabíamos explicar. Infelizmente, ainda existem pessoas que pensam que os jogadores fazem de propósito para errar e julgam que é a ameaçar ou a bater que resolvem as coisas. Jamais, faltei ao respeito com os adeptos ou com a instituição que me dava sustento. Nem no Palmeiras, nem em outro clube.

Quando o Filipão saiu, a equipa começou a sofrer muitas alterações. Saíram muitos jogadores e eu acabei por ser transferido também. Fui para o Espanyol, estive hospedado num hotel em frente ao Camp Nou, treinava sozinho e estava tudo acertado para assinar pelo clube.

Entretanto, o FC Porto vendeu o Jardel para o Galatasaray, a equipa estava a passar por muitas dificuldades e o empresário Josep Maria Minguella, perguntou-me se eu queria ir para o FC Porto, se não tinha medo da pressão, por substituir o Jardel. Eu só disse :- “ Rapaz, pressão é jogar no Palmeiras, onde os adeptos entram no balneário, onde ameaçam as nossas famílias.

Na Europa é diferente, vida tranquila. Óbvio que estou preparado.” As negociações com o Espanyol foram suspensas, eu assinei um contrato de 5 anos com o FC Porto e mais uma vez fiquei prejudicado, porque tinha direito a receber uma percentagem da transferência e isso não aconteceu.
O contrato com o FC Porto foi muito bom, era aumentado anualmente e eu pensei que era o contrato da minha vida e então decidi fazer alguns investimentos na minha cidade. Como as coisas me estavam a correr bem, a direção do FC Porto estava satisfeita com o meu desempenho, eu pedi um adiantamento e eles pagaram-me de uma vez só 2 anos de contrato. Com esse dinheiro eu quis construir vários apartamentos, para que quando deixasse de jogar, tivesse uma vida orientada. Acontece que houve uns problemas com os depósitos na minha conta e um empresário que eu conhecia, ofereceu-se para guardar o dinheiro na sua conta bancária. Escusado será dizer, que ele sumiu com o meu dinheiro, Roubou-me 750 mil dólares.

Fiquei louco e desesperado. Sempre que ia ao Brasil, procurava saber do paradeiro dele, mas sempre sem sucesso. Passado quase um ano, ele entrou em contacto comigo e disse-me que ia devolver o meu dinheiro, que estava com alguns problemas com a esposa, mas para eu ficar tranquilo. Mais tarde, falei com um assessor dele, que me disse para eu não me iludir, pois ele não tinha intenções de me pagar. Eu não vou mencionar o seu nome, mas acredito na lei do retorno.

Estive um mês a treinar sozinho, antes de chegar ao FC Porto. Lembro-me que quando cheguei ao estádio, levava uma camisa vermelha e todos disseram que ali, aquela cor era proibida. Quem é do Porto, é do Porto e o vermelho é proibido.

Fiz 3 treinos com a equipa, perguntaram-me se estava apto para jogar contra o Paços, disse que sim e logo na estreia fiz 2 golos. 

O treinador era o Fernando Santos, um homem sério, de poucas palavras, tinha um jeito fechado de lidar connosco, mas gostei muito de trabalhar com ele. Eu nunca tive problemas em admitir que não era habilidoso como o Drulovic, que não tinha a técnica do Deco, ou o toque refinado do Capucho. Mas sinto-me orgulhoso, por ter sido avançado, médio defensivo, defesa central… isto, porque eu dentro de campo era tudo. Morria em campo pelos meus companheiros.

Eu hoje fico revoltado, quando vejo estes meninos que se recusam a jogar 2 jogos seguidos, ou porque estão cansados, ou porque sentem uma dor. Eu no FC Porto, tive uma pubalgia gravíssima, levava 10 injeções por semana para poder jogar. Houve uma altura em que a equipa estava mal, vários jogadores indisponíveis e eu sacrifiquei o meu corpo e a minha carreira, para ajudar o FC Porto. Atualmente, estes meninos até jogam com soutien. No meu tempo não era assim. Derivado a essa pubalgia, o meu rendimento começou a baixar e andaram a insinuar que eu só queria era sair à noite, que me viam aqui e ali, tudo mentira.

No meu tempo de FC Porto, nós éramos blindados pelo Pinto da Costa e pelo “chefinho” e teve até um episódio com o Fernando Gomes, em que este me confrontou e acusou-me de ter saído à noite na véspera de um jogo. Eu neguei tudo e ameacei-o que o atirava lá de cima do escritório na torre das Antas, se ele não me dissesse quem é que lhe tinha contado isso. Ele depois foi chamar a pessoa em questão que acabou por dizer que tinha visto o meu carro e não a minha pessoa. Coisas destas, eram comuns acontecerem, mas eu sempre fui muito profissional. O Pinto da Costa e o Reinaldo Teles, foram sempre impecáveis comigo, o senhor Domingos, o Antero… haviam era pessoas que tinham inveja e procuravam desestabilizar. 

Eu fui muito injustiçado no FC Porto. Fui o melhor marcador da Liga, fui sondado pelo AC Milan e nem uma notícia positiva sobre mim saía na Imprensa. Por isso é que eu também estive muito tempo sem falar nada para os meios de comunicação.

Quando o Mourinho chegou, ele disse-me que queria ficar comigo de qualquer jeito. Ambos sabíamos, que com ele, eu poderia me tornar num dos melhores goleadores da Europa e trazer coisas positivas para o clube. O problema, é que em virtude do que tinha acontecido com o tal empresário, apareceram processos no Brasil, que até me podiam levar à prisão e como recebi uma proposta muito boa do Estrasburgo, eu não pensei duas vezes e assinei. 

Já tinha pedido o dinheiro ao FC Porto, então pensei : ou tens uma carreira desportiva com títulos, ou honras a tua palavra. Optei pela segunda, até porque precisava do dinheiro, para fechar os compromissos que tinha no Brasil.

Saí para a França e nesse ano o FC Porto ganhou tudo e no ano seguinte ganhou a Champions. Fiquei triste, porque sabia que podia ter contribuído para esses feitos, mas ao mesmo tempo feliz pelo clube, pelo Mourinho, pelos adeptos e amigos que deixei lá.

 Apesar de ter trabalhado pouco tempo com o Mourinho, criei um laço muito forte de admiração e respeito com ele. Quando era para trabalhar a sério, era a sério. Puxava as orelhas, dava conselhos de irmão mais velho, mas quando era hora de relaxar, também se sentava connosco para beber um vinho, conversar um pouco, contar piadas… por isso é que passados tantos anos, ele continua a ser o melhor do mundo.

Estive um ano no Estrasburgo. Um ano muito difícil. Logo nas primeiras semanas, lesionei-me e estive muito tempo afastado da equipa. Quando regressei, ainda fui a tempo de fazer alguns jogos, mas a equipa também já estava encaixada e não tive a preponderância que desejava.

Eles gostavam muito de mim, mas eu era um jogador muito caro para as possibilidades financeiras do clube e então regressei ao FC Porto.

Quando regressei ao Porto, a equipa tinha fechado com o Benni McCarthy e tinham também o Derlei que o Mourinho já conhecia bem. Fiquei sem espaço no plantel e fui cedido ao Braga.
Muitas vezes me perguntava :- “ Meu Deus, porquê eu?”, sabia que se não tivesse sido roubado, poderia ter tido uma carreira de sucesso no futebol internacional, que me levaria  para outros voos, mas hoje eu sinto-me abençoado por Deus, por todas as coisas que conquistei e se não tive sorte na altura, foi porque Ele me deu essa missão. O dinheiro é bom, faz falta, toda a gente gosta, mas felizmente, eu nunca precisei de passar por cima de ninguém para conquistar tudo o que tenho. Posso andar na rua de cabeça erguida, durmo descansado.
No Braga, tive a oportunidade de relançar a carreira. O Jesualdo Ferreira foi mais um dos grandes treinadores que tive. Tinha aquele ar fechado, mas gostava muito da paródia, de brincar connosco, uma pessoa espetacular. Depois dos problemas que passei, ter jogado pouco em França, ele apostou em mim e felizmente pude retribuir com bons desempenhos. Tínhamos um bom plantel, haviam alguns jogadores problemáticos, mas ele sempre conseguiu manter o grupo unido. Nós nessa época, estreámos aquele estádio magnífico, metemos o Braga na UEFA, estivemos perto de chegar ao Jamor e posso me orgulhar de ter contribuído para que o Braga, hoje seja um clube grande.

Estive em Braga há pouco tempo atrás e fiquei um pouco desiludido com alguns ex colegas meus, com alguns dirigentes, porque as pessoas têm de se lembrar do que foram no passado. Hoje, lá porque o Braga tem uma dimensão maior do que na minha época, não significa que devam ser vaidosos. Nós no Braga, deitámos sangue, suor e lágrimas para que o clube hoje ocupe a posição que ocupa no futebol português.

Também estive no Estádio do Dragão, a assistir ao jogo contra o Krasnodar, o Pinto da Costa e o Reinaldo Teles, falaram comigo, da mesma maneira que falavam há 20 anos atrás. Sem vaidades, com humildade e respeito. 

Nesse dia, pude constatar também, como os jogadores são privilegiados : quando eu jogava no Porto, empatámos contra a Juventus e contra o Liverpool, fomos assobiados, insultados, toda agente queria bater nos jogadores. Eles perderam contra uma equipa mediana, sem tradição, foram afastados da Champions e receberam aplausos no final do jogo.

Fui para o Marítimo já desvinculado do Porto. Sabia que podia ter tido outra carreira, que podia estar a jogar num grande clube europeu, mas fui para a Madeira motivado e ao mesmo tempo feliz, por poder conhecer pessoas novas, outras realidades e a verdade é que o Funchal é uma cidade maravilhosa, da qual gostei muito de viver. Passei momentos muito bons lá, apesar dos sustos que apanhei nos aviões.

Joguei uma época no Marítimo, estava com 32 anos e decidi regressar ao Brasil. Sabia que não teria a chance de fazer grandes contratos, que o dinheiro que me tinham roubado, dificilmente o voltaria a ver e como ainda tinha algum património no meus país, pensei que era melhor ser eu a cuidar das coisas, do que correr o risco de voltar a ser enganado.
Assinei pelo Botafogo, cheguei no decorrer da época, fora de forma e quando começo a atingir os meus níveis físicos, apercebo-me de que havia jogadores a pagarem ao treinador. 
Confrontei-o e disse à direção, que ou saía eu, ou saía ele. Ele ficou e eu não tive alternativa. Esse treinador, era mau demais, não percebia nada de futebol, distribuía umas camisas, recolhia o dinheiro e estava bom.

Voltei para a minha cidade e fui convidado para disputar o Campeonato Baiano pelo Madre de Deus e decidi parar. Mais tarde, o Serrano, onde eu tinha começado, criou um projeto muito ambicioso, que passava por colocar o clube na divisão acima. Eu fui, juntamente com o Clayton que também jogou em Portugal, alcançámos as meias finais, algo inédito na história do Serrano, só que eu parti um dedo num jogo e já não pude colaborar mais.

Criei uma Academia de futebol. Aqui em Vitória da Conquista há muito talento e os clubes grandes do Brasil, procuram reforçar as suas equipas com jovens jogadores. Estamos a trabalhar no sentido de conseguir inscrever várias categorias nos campeonatos, para começar a competir. Tentei alguns protocolos com clubes portugueses e espero que no futuro, possam ser fechados. Espero que dentro de cinco anos, possamos estar a disputar o campeonato baiano.

O meu filho Pablo Filipe, joga no Famalicão e começou nesta Academia, o filho do Clayton também passou por cá e também está a jogar em Portugal. Acho que eles podem ser duas grandes referências deste projeto e oxalá que outros meninos possam seguir os seus passos.